Folha de S. Paulo


David Feffer

Líder empresarial 4.0

Inteligência artificial, nanotecnologia, biotecnologia, internet das coisas e todo este mundo novo já estão sinalizando mudanças em nossa forma de viver. Modificarão substancialmente os relacionamentos entre pessoas e empresas. Produzirão impactos nas famílias, na educação, nas estruturas de trabalho. É inexorável. E é preciso desde já que sejam repensados os padrões de gestão pública e privada.

Como a informação está disponível a todos, seu valor é tanto maior e estratégico quanto mais governos, empresas e sociedade tenham capacidade de filtrar adequadamente os conteúdos para definir quais informações servem para determinados objetivos, e assim transformá-las em ativo, produto ou serviço.

Esse ambiente exigirá transparência dos governos e de todas as instituições, acarretando ampla reformulação do sistema legal e o enfrentamento do desafio de ajustar o compliance (termo em inglês relacionado a boas normas de conduta nos negócios) à realidade.

Paulo Branco

Nesse novo mundo, quais serão os desafios, as oportunidades e os requisitos para que empreendedores tenham sucesso? Líderes empresariais atuarão em sociedades nas quais as máquinas farão praticamente tudo o que os humanos fazem hoje, nas quais a educação estará disponível por diversos canais à distância, nas quais chips e sensores farão da prevenção na saúde uma prática comum, nas quais realidade virtual e implantes neurais em homens-robôs serão frequentes.

O novo líder precisará conduzir organizações guiadas por ideias, deverá tirar proveito do crescente nível de colaboração propiciado pelas emergentes tecnologias de informação e de comunicação, terá de vencer barreiras hierárquicas e praticar a cultura do poder descentralizado.

Desde os anos 1980, graduados em economia e administração assumiam rapidamente boa parte das posições de liderança no chamado "C level" das empresas, porém a realidade vem se transformando a passos largos. Já a partir dos dois últimos anos, profissionais formados em ciência da computação e biotecnologia têm conquistado papel de liderança nas empresas americanas.

A inteligência artificial está migrando rapidamente da academia para a vida real, como alertou reportagem recente do jornal britânico "Financial Times".

Haverá pouco tempo para nos ajustarmos a uma vida com veículos autoguiados, com diversos tipos de máquinas inteligentes que saberão "ouvir" e "ver" como nós, aptas, portanto, a substituir a mão de obra humana, o que impactará o número de postos de trabalho.

A chamada Quarta Revolução Industrial, tema central da edição deste ano do Fórum Econômico Mundial em Davos e de reportagem da revista "Fortune" deste mês de fevereiro, levanta várias questões.

Quais transformações acontecerão nos negócios e nas economias? Como serão administrados emprego, desigualdade e meio ambiente? Qual será o papel dos empresários e dos líderes empresariais? Como identificar, formar e preparar sucessores? Para que servirão os conselhos de administração?

Muitas dessas perguntas serão respondidas em futuro próximo. É certo que os novos líderes deverão promover energia, paixão e criatividade. Precisarão buscar constantemente o conhecimento, valendo-se de todas as ferramentas disponíveis, desde cooperação, alianças, fusões e associações até pesquisas e trabalhos em rede, com propriedade intelectual difusa.

Os líderes da geração 4.0 terão múltiplas habilidades, serão um pouco empreendedores e um pouco advogados, um tanto cientistas e outro tanto romancistas.

Precisarão ser mais flexíveis, ter causas e advogar por elas, sonhar e construir seus sonhos, mas nunca sozinhos. E as associações empresariais se transformarão em espaços compartilhados de trabalho colaborativo, nos quais atividades de "think tank" se somarão às de cientistas e "fazendeiros biológicos".

Portanto, empreendedores, especialmente os jovens, abram suas mentes e apertem os cintos.

O futuro bate à porta.

DAVID FEFFER é presidente da Suzano Holding

*

PARTICIPAÇÃO

Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


Endereço da página:

Links no texto: