Folha de S. Paulo


LEONARDO PICCIANI

Lealdade à democracia

Sou formado por uma escola política que ensina que não se briga com o resultado das urnas. Depois que as eleições terminam, os derrotados devem recolher suas armas. Os vencedores, governar.

Infelizmente, não é o que vimos acontecer desta vez. Sinto-me muito livre para tratar disso porque é público que não apoiei a presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014.

Pela razão de o PT ter lançado candidato próprio a governador no Rio, rompendo aliança de sete anos com PMDB local, e por acreditar que era hora da alternância do poder, na esfera federal, defendi, na convenção do meu partido, em junho do ano passado, o rompimento com o projeto petista.

O PMDB tinha ali a chance de traçar um caminho próprio, mas optou, por diferença apertada, por manter a aliança. O PMDB saiu dividido, mas não poderia permitir que, passada a eleição, a disputa eleitoral permanecesse dividindo o país. Foi justamente o que aconteceu.

A oposição nunca reconheceu sua derrota. Passou a trabalhar na tese do "quanto pior, melhor", a ponto de renegar suas próprias bandeiras históricas, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao mesmo tempo em que defendia a necessidade dos ajustes, votava medidas de aumento de gastos.

Na ausência de elementos que demonstrassem, até então, o envolvimento pessoal da presidente Dilma com escândalos de corrupção desvendados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, foi gestada a tese de que "pedaladas fiscais" seriam motivo de impedimento.

A tese, fraca e de difícil compreensão popular, inicialmente não uniu nem a oposição. Aos poucos, contudo, ajudada pela condução errática do governo com sua base e por um clima político cada vez mais conflagrado na Câmara, a tentativa de golpe chegou ao Planalto. Era hora de o PMDB assumir seu papel moderador.

Fui eleito, em fevereiro de 2015, líder do PMDB na Câmara. Quando, nesta condição, fui chamado para conversar sobre a participação da bancada no governo, submeti a proposta ao voto. Por 41 a 9, venceu a posição pela participação no governo. Pedi nomes, apresentei nove opções por escrito à presidente, que fez suas escolhas. Eu mesmo não tenho um único cargo indicado por mim.

Nenhum líder, em qualquer tempo, teve a unanimidade da bancada do PMDB. O diálogo, entretanto, sempre foi a marca do nosso partido. Por isso, é um retrocesso ver práticas truculentas se instalarem não apenas na condução da Câmara, mas na própria bancada.

O fato de terem ressuscitado a velha prática da deposição de líder por meio do recolhimento de assinaturas em listas é o maior exemplo disso. Respeitei a posição da bancada e submeti-me a ela, mas logo depois retornei ao cargo de líder com o apoio desses parlamentares.

Quanto a mim, independentemente de ser ou estar líder, ficarei onde minha consciência manda. Enquanto a planície assiste estarrecida ao teatro de horrores que se desenrola em Brasília, a crise econômica se aprofunda, a inflação e o desemprego disparam.

É hora de permitir que o governo democraticamente eleito tenha condições de governar, enquanto é tempo, pelo bem do país.

LEONARDO PICCIANI, 36, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, disputa a reeleição ao posto nesta quarta-feira (17)

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