Folha de S. Paulo


editorial

Veredito econômico

Atingida pelo maior escândalo de corrupção da história do futebol, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) assiste à fuga de seus principais patrocinadores.

A última defecção ocorreu na sexta-feira (5), quando foi anunciado que a empresa francesa Michelin, uma das maiores fabricantes de pneus do mundo, deixou de apoiar a entidade. Trata-se do terceiro grande parceiro a deixar a CBF nos últimos dois meses, depois da Procter & Gamble e da Sadia.

A confederação, naturalmente, nega qualquer relação entre os rompimentos e as suspeitas de corrupção. A narrativa, porém, perde sentido diante do acúmulo de problemas de seus dirigentes com a lei.

Os três últimos presidentes da CBF –que a comandaram nos últimos 25 anos– são acusados pela Justiça dos EUA de envolvimento em esquemas criminosos de subornos e propinas relacionados sobretudo a contratos de televisão.

José Maria Marin, preso em maio com outros dirigentes da Fifa, cumpre atualmente prisão domiciliar nos EUA. Seu antecessor, Ricardo Teixeira, e seu sucessor, Marco Polo Del Nero, foram indiciados em dezembro pela Justiça norte-americana por participação em fraudes da ordem de US$ 200 milhões.

É uma situação já vivida pela entidade máxima do futebol. Na esteira do escândalo que levou à prisão importantes dirigentes e resultou na saída de seu presidente, Joseph Blatter, a Fifa perdeu vários de seus principais patrocinadores.

Mais: ouviu, dos que ficaram –gigantes como Cola-Cola, Adidas e Visa–, cobranças públicas por maior transparência e punição aos envolvidos nas fraudes.

A atitude é compreensível. O envolvimento de grandes empresas com o esporte não se dá por acaso. Elas buscam associar-se a uma atividade na qual a excelência, a competição justa e o incentivo à saúde têm papel fundamental. Natural que debandem num cenário em que vicejam denúncias de corrupção, fraudes e desvios.

Esse veredito econômico, mais sensível à opinião pública e célere que os tribunais, acaba, assim, servindo como um fator relevante para inibir a corrupção no esporte –ou, ao menos, para levar suas entidades representativas a buscar mais transparência e a criar instâncias de controles de desvios.

Feito o estrago, não é fácil nem segura a recuperação da imagem. A Fifa ao menos vem acenando com alterações em sua administração e a criação de órgãos de fiscalização. As iniciativas ainda precisarão passar pelo teste da realidade, mas já indicam um começo.

A CBF nem começou nada.

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