Folha de S. Paulo


JOSÉ LUIZ BATISTA E LUIS ANTONIO PAIN

Autogestão é caminho curto para a modernização do Ceasa

Criada no fim da década de 60 a partir da fusão das operações do Ceasa (Centro Estadual de Abastecimento) e do Cagesp, órgãos então vinculados ao Governo do Estado, a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) é uma empresa gerida pelo governo federal, integrando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que hoje administra o Ceasa de São Paulo.

Este recebe cerca de 30% dos alimentos frescos do Brasil, o que corresponde a um fluxo diário de 10 mil toneladas, 50 mil pessoas, 12 mil veículos, com mais de 2500 empresas atuando para abastecer milhões de pessoas, interligando a produção de praticamente todos os estados brasileiros.

Entrepostos de alimentos constituem um modelo mundialmente consagrado na comercialização de alimentos para que prevaleça o interesse da sociedade, integrando todos os perfis da cadeia produtiva, colocando concorrentes lado a lado.

O entreposto organiza e amplia a oferta de produtos, oferece um ponto de logística coletivo aos médios e pequenos comerciantes, facilitando o acesso de compradores de todos os perfis, dando a oportunidade também aos pequenos e médios produtores de comercialização de suas safras, aproximando o produtor do consumidor.

Mesmo posicionado como um dos maiores centros de distribuição de alimentos do mundo e o maior da América Latina, não se observou na última década qualquer modernização das instalações do Ceasa. Inversamente proporcional foi o aumento dos custos de operação.

Para trabalhar no entreposto, paga-se duas tarifas: o TPRU, equivalente ao aluguel pelo uso dos boxes, e o condomínio, rateios mensais entre os permissionários, correspondentes às despesas operacionais com portaria, segurança, limpeza, manutenção.

Esse condomínio aumentou cerca de 40% ao ano nos últimos três períodos, índice muito acima da inflação. Há itens, como seguro, que superaram 600% de reajuste em menos de dois anos, sem que esteja claro para os permissionários onde foram empregados os recursos.

Diferente do ritmo lento da Ceagesp, que arrecada para administrar o condomínio, os permissionários investiram em modernização por conta própria, efetuando reformas nos boxes e módulos, aprimorando processos, desde o embalamento até a classificação dos produtos etc.

O descompasso entre o interesse público e a atuação estatal, e o alto custo agregado da ineficiência, suscita o questionamento acerca do atual modelo de gestão do entreposto de alimentos. A interferência do governo deve acontecer para melhorar a dinâmica da atividade, criando normas, regras, capacitando, treinando, fiscalizando.

A gestão, no entanto, deve ficar a cargo dos próprios permissionários, com a criação de uma Oscip (Organização da sociedade civil de interesse público), instituição sem fins lucrativos, que trará solução em curto prazo para a recuperação integral do Ceasa, adotando parâmetros objetivos e de efeito prático para sua eficiência e modernização.

Serão os permissionários a definir prioridades que estão no cotidiano de quem trabalha com distribuição alimentos frescos, verduras, legumes, frutas, pescados e flores.

Em agosto entregamos um estudo à ministra Kátia Abreu sobre o modelo de autogestão para um entreposto com as características da Ceasa. Aguardamos sua resposta.

Há também a ideia de mudança de endereço do entreposto, como parte da solução. Mas, efetivamente, o que fará a diferença é a mudança do modelo de gestão, ultrapassado e ineficiente, hoje totalmente controlado pelo Estado.

JOSÉ LUIZ BATISTA, 52, presidente do Sincaesp - Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo
LUIS ANTONIO PAIN, 56, presidente da Apesp - Associação Permissionários Entreposto São Paulo

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