Folha de S. Paulo


EDITORIAL

Tragédia industrial

A indústria fechou o ano passado com queda de 8,3%, o pior resultado desde 2003. A retração, tanto mais grave, não constitui fato isolado; representa apenas o capítulo mais recente de uma longa história de problemas e erros que derrubaram a produção ao nível do começo deste século. É possível contar essa tragédia em três atos.

O primeiro, grosso modo, vai de 2003 a 2007, quando a manutenção de uma política econômica responsável em um contexto de forte crescimento mundial e custos internos baixos permitiu bom desempenho da indústria.

O setor avançou em média 4% ao ano, impulsionado pelo aumento da demanda doméstica e pela exportação de manufaturados.

O Brasil colhia então os frutos da estabilização econômica, com salários internos competitivos e valorização aceitável do real. Foi possível expandir inclusive a indústria mais sofisticada, como o segmento de máquinas e equipamentos.

O quadro começa a mudar a partir de 2008. Como reação à crise internacional, o governo Lula (PT) acelerou o gasto público, multiplicou o crédito dos bancos oficiais e passou a intervir cada vez mais nos vários campos industriais, no intuito de proteger mercado e forçar a nacionalização de componentes.

Verdade que a indústria se recuperou nos dois anos seguintes, acompanhando o restante do mundo. Mas o êxito momentâneo levou o governo a imaginar que havia descoberto um atalho para o desenvolvimento, por meio do dirigismo estatal e do fechamento da economia ao comércio internacional –nada mais equivocado.

O último ato tem início em 2011, quando a produção estagnou. A principal causa foi a política econômica, que suscitou aumento de salários e custos acima da produtividade, juros altos e valorização extrema do real, tudo para prejuízo da competitividade.

Vendo a indústria brasileira patinar, o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) dobrou a aposta no intervencionismo –perdeu, e não faltaram alertas nesse sentido.

A derrocada foi tamanha que restou demonstrado de forma cabal o equívoco da estratégia adotada. Nisso, aliás, talvez resida o único aspecto positivo dessa história: não há como deixar de procurar uma correção de rumos.

Parece formar-se um consenso, inclusive nos meios empresariais, de que o caminho passa necessariamente pela abertura e pela integração às cadeias globais de produção, sem o que não haverá competitividade possível.

O câmbio já se ajustou; os salários começam a fazê-lo. É preciso trabalhar na agenda da produtividade e celebrar acordos comerciais que abram novos mercados.

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