Folha de S. Paulo


editorial

Vitória da diplomacia

A revogação de sanções econômicas contra o Irã anunciada no sábado (16) transforma em realidade o histórico acordo nuclear assinado em julho de 2015 por aquele país e pelas cinco potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) e a Alemanha.

O "dia da implementação", como foi definido por ambas as partes, ocorreu após a Agência Internacional de Energia Atômica atestar que Teerã cumpriu suas obrigações estabelecidas no pacto.

Nos últimos meses o Irã reduziu em 98% seus estoques de urânio enriquecido, desmontou dois terços das centrífugas usadas no beneficiamento do material e permitiu acesso de fiscais internacionais a suas instalações nucleares.

Recebe, em troca, US$ 100 bilhões em bens que estavam congelados no exterior e a permissão para voltar a comercializar petróleo no mercado internacional, além de outras concessões que abrem as portas para a sua reintegração à economia mundial.

Tudo somado, as medidas tomadas por ambas as partes constituem um passo crucial para o fim do isolamento do Irã, que já dura mais de três décadas.

Com a Revolução Islâmica de 1979, que instaurou a teocracia xiita em Teerã, e o posterior rompimento de relações entre o país persa e os EUA, iniciou-se um longo período de radicalização e desconfiança entre as duas nações.

A situação só fez agravar-se nos anos seguintes com o apoio do Irã a facções radicais –como o Hizbullah, no Líbano, e o Hamas, na Faixa de Gaza– e o início de um programa nuclear de intenções obscuras.

Diante de tal histórico, são significativos os progressos obtidos. Não convém, todavia, subestimar as dificuldades do porvir.

O acordo, por exemplo, é condenado por setores ultraconservadores do governo iraniano. Conta ainda com forte oposição de Arábia Saudita e Israel, que temem os efeitos do reposicionamento iraniano no Oriente Médio.

Permanecem, ademais, focos de tensão entre o Irã e o restante do mundo –como provam as sanções implementadas no domingo (17) contra empresas e cidadãos do país em decorrência do programa de mísseis de Teerã.

Deve-se ter em mente, por fim, que o programa nuclear iraniano continua em atividade e que a reafirmação de seu caráter pacífico dependerá das constantes e abrangentes inspeções internacionais.

Seja como for, os feitos alcançados até agora não apenas indicam o acerto do acordo nuclear como representam inegável e auspiciosa vitória da diplomacia e do pragmatismo político sobre a beligerância e a confrontação.

editoriais@uol.com.br


Endereço da página:

Links no texto: