Folha de S. Paulo


O caso Dayan

Veio eriçada de farpas a reação de Dani Dayan diante da recusa do governo brasileiro em aceitar sua indicação como embaixador de Israel em nosso país.

"Entendo perfeitamente a situação. No último meio ano, o Brasil se deteriorou em todos os sentidos e se tornou bem menos importante e desafiador ser embaixador", disse.

Que assim seja. Certamente não faltarão desafios à dura campanha que Dayan desenvolve como representante internacional do movimento pela colonização dos territórios palestinos na Cisjordânia.

Reprovada pela ONU e pela diplomacia brasileira, a continuada prática de radicais e ultraortodoxos israelenses de estabelecer assentamentos naquela região tem representado um dos mais sérios obstáculos a qualquer solução para o conflito entre árabes e judeus.

Esta teria de contemplar, segundo vozes moderadas de ambas as partes, a coexistência de duas nações plenamente constituídas, com fronteiras claras e imunes às investidas do expansionismo e do terror.

Ainda assim, não foram bem as opiniões de Dani Dayan a causa decisiva para que o Itamaraty acertadamente recusasse seu nome como embaixador israelense no Brasil.

Ao indicá-lo por meio de mensagem em uma rede social, sem consulta prévia às autoridades brasileiras, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu protagonizou uma quebra do protocolo que beira o desrespeito e a provocação.

A atitude surge, ao que tudo indica, ainda como desdobramento do episódio em que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, condenou os ataques israelenses à Faixa de Gaza.

Numa resposta mais típica de Golias do que de Davi, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou o Brasil como um "anão diplomático".

Um ano e meio depois, Netanyahu dá mostras de não estar disposto a atenuar, nem sequer com um mínimo de cortesia, as arestas existentes entre os dois países.

O caso da indicação de Dayan ocasionou um manifesto de 40 ex-diplomatas brasileiros, entre os quais figuras insuspeitas de alinhamento com o PT, apoiando a decisão do Itamaraty.

O país de Oswaldo Aranha e de Luís Martins de Souza Dantas –cujos papéis foram notáveis, respectivamente, na criação do Estado de Israel e na ajuda a centenas de judeus perseguidos pelo nazismo– não merecia essa desfeita por parte de Binyamin Netanyahu.

Um país, ademais, em que pessoas de origem árabe e israelita convivem em paz e amizade não será nunca um anão, quando se tratar de contribuir para o entendimento no conflito entre israelenses e palestinos de boa vontade. É isso o que faltou, entretanto, ao atual primeiro-ministro de Israel.

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