Folha de S. Paulo


editorial

Petrobras em dívida

Os últimos resultados da Petrobras mostram que a dura tarefa de reconstruir a estatal está apenas no começo. Embora se vislumbrem tênues sinais de melhoria operacional, o excesso de endividamento e os erros do passado ainda comprometem sua rentabilidade.

Nos últimos três meses, o prejuízo chegou a R$ 3,8 bilhões, pior que a projeção média de analistas e 30% inferior ao mesmo período de 2014. Há razões pontuais para as perdas, como a liquidação de alguns passivos tributários e trabalhistas. A recessão interna tampouco ajudou, ao reduzir a demanda por combustíveis e as vendas, 7% menores que no ano passado.

No campo operacional, há algumas boas notícias. A produção de petróleo do pré-sal atingiu cerca de 850 mil barris/dia em setembro –eram cerca de 600 mil há um ano.

A Petrobras gerou US$ 21 bilhões em caixa nas suas operações até setembro e pode fechar 2015 com US$ 25 bilhões. O problema é que esse valor não basta para atender aos dois drenos principais: o serviço da dívida e o plano de investimentos, que, juntos, chegam a cerca de duas vezes tal montante.

O crescimento da dívida continua implacável. Como a maior parte é indexada ao dólar, que se valorizou no terceiro trimestre, o passivo atingiu R$ 402 bilhões (44% a mais que no final de 2014) e representa 5,2 vezes a geração de caixa.

O único caminho é reduzir os investimentos e renegociar prazos da dívida líquida. Neste ano, tem havido relativo sucesso. A empresa antecipou captações e dilatou vencimentos, poupando recursos. Espera com isso terminar o ano com US$ 22 bilhões em disponibilidades.

A tarefa continua. O plano de desinvestimentos de US$ 15 bilhões até 2016 ainda engatinha (até agora só foram levantados US$ 200 milhões), e as conversas com os credores precisam ser intensificadas.

É essencial, contudo, que a Petrobras faça uma ampla revisão de suas despesas administrativas, incluindo o inchaço de pessoal. É preciso quebrar resistências e promover uma reforma de fundo na estrutura da empresa. Nessa frente, o esforço ainda é insuficiente.


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