Folha de S. Paulo


editorial

Colômbia em busca da paz

O aperto de mão entre Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, e Rodrigo Londoño, líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), assinalou o provável e há muito desejado fim de um conflito armado que, em 50 anos, deixou mais de 220 mil mortos e marcou a história do país.

Registrado no final de setembro, o gesto celebrava o acordo para a criação de um tribunal especial destinado a julgar os envolvidos na guerra civil, o ponto mais polêmico da negociação de paz que se arrasta desde 2012. Definiu-se, ademais, que até março de 2016 será assinado o tratado definitivo.

Em que pesem as perspectivas promissoras, não são poucos os desafios até o entendimento final.

A primeira tarefa é viabilizar mudanças constitucionais para pôr em prática os termos acertados. Depende disso, por exemplo, a criação da Justiça de transição que julgará todos os atores envolvidos –guerrilheiros, militares, financiadores–, num tribunal formado por juízes colombianos e estrangeiros.

Para isso, Santos terá de se entender com o ex-presidente e hoje senador Álvaro Uribe. Principal crítico da negociação, ele vocaliza a opinião de parte expressiva da sociedade, para a qual o atual mandatário cedeu demais às Farc. Outro ponto importante é levar uma população traumatizada por décadas de violência a reconhecer as vantagens do acordo.

A tarefa mais complexa e crucial, entretanto, é estabelecer como se dará a reorganização do país no pós-conflito, conforme mostrou esta Folha na segunda-feira (12).

Trata-se de definir o que será feito de armas, territórios e recursos das Farc, bem como de encontrar a melhor maneira de reintegrar à sociedade os cerca de 8.000 guerrilheiros que se mantêm ativos.

Não custa lembrar que os planos de deslanchar uma revolução comunista na Colômbia se transformaram em verniz ideológico a esconder verdadeira organização criminosa, alimentada principalmente pelo tráfico de drogas.

Além disso, há questões de reparação às famílias das vítimas, de reconstrução da infraestrutura e de reintegração dos milhões de deslocados pelo conflito.

O Brasil poderia colaborar nesse esforço. A expertise do país no setor agrário, sobretudo em agricultura da família, seria de grande valia na revitalização das áreas camponesas, base da ação da guerrilha.

Por fim, o sucesso do acordo com as Farc pode impulsionar o incipiente diálogo com o Exército de Libertação Nacional, segundo maior grupo guerrilheiro da Colômbia –e ainda um obstáculo à paz no país.

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