Folha de S. Paulo


MAURO VIEIRA

O melhor caminho para a paz

Uma grande avenida de cooperação está sendo reaberta entre Brasil e Irã. Essa é a principal conclusão que trago de Teerã, aonde fui em missão oficial há dez dias.

O Irã vive uma fase de rápida reinserção internacional. O marco dessa nova etapa é o acordo nuclear que o país firmou em julho com o grupo composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha. O acordo motivou intensa atividade diplomática e uma sucessão de visitas de alto nível ao Irã. Pontes diplomáticas estão sendo construídas ou reconstruídas.

O Brasil celebra o acordo. O entendimento alcançado é uma vitória do diálogo sobre a confrontação. Essa é uma causa tradicional e uma vocação permanente da política externa brasileira. Há mais de meio século, ao defender o reatamento das relações entre o Brasil e a União Soviética, o chanceler San Tiago Dantas ensinava: "A paz não se manterá, se o preço que tivermos de pagar por ela for o isolamento".

Foi esse o espírito que motivou nossa parceria com a Turquia na negociação da Declaração de Teerã, em 2010, por meio da qual o Irã aceitava limitações a seu programa nuclear. A busca do entendimento foi um exercício complexo e difícil, mas os custos de um impasse eram –e mostraram-se– muito maiores.

Como o círculo vicioso de sanções, ameaças e ações militares no Iraque e na Líbia demonstrou de maneira contundente, a alternativa da confrontação pode ter consequências trágicas para a ordem internacional. A crise migratória, impulsionada pelas guerras civis, pelo sectarismo, pela fragilidade institucional e pela pobreza é apenas a face mais evidente da instabilidade que afeta diferentes partes do mundo.

A conclusão do acordo contribuirá para a construção de confiança entre as partes envolvidas e para a promoção da estabilidade no Oriente Médio. Foi nesse cenário favorável, que abre oportunidades para o Brasil, que realizei viagem a Teerã.

O Irã é o nosso maior parceiro comercial na região. São amplas as oportunidades que empresas brasileiras poderão explorar em áreas como agronegócio, energia, mineração e infraestrutura. Com o levantamento das sanções do Conselho de Segurança, essas perspectivas de comércio e investimento tornam-se ainda mais promissoras.

Em 2011, por exemplo, a corrente de comércio chegou a US$ 2,3 bilhões, antes de ser impactada pelo regime de sanções e cair para US$ 1,4 bilhão no ano passado.

Desejamos também reforçar o diálogo franco que sempre caracterizou nossa interlocução política com o Irã. Fui portador de firme mensagem de apoio e encorajamento do governo brasileiro à solução pacífica das controvérsias da região.

O Brasil respondeu positivamente à proposta iraniana de criação de um mecanismo estruturado de diálogo sobre direitos humanos. Permanecemos sempre fiéis à perspectiva brasileira de respeito pleno à universalidade, integralidade e indivisibilidade dos direitos humanos.

Minha visita a Teerã foi o ponto de partida para uma série de visitas bilaterais de alto nível, que vão estreitar a cooperação em diversos setores. A diversificação de parcerias e o fortalecimento de nossa presença no Oriente Médio são parte relevante da estratégia de política externa do governo da presidenta Dilma Rousseff.

Nossos laços de solidariedade ganharam especial visibilidade há poucos dias, quando uma corveta da Marinha do Brasil a caminho do Líbano para integrar a missão das Nações Unidas naquele país desviou-se de seu caminho e resgatou 220 refugiados à deriva no mar Mediterrâneo, ação que honra nossa Marinha e nosso país.

Ao intensificar o diálogo e o engajamento com parceiros no Oriente Médio, o Brasil exerce a responsabilidade que lhe cabe na construção de soluções para a região e na construção de um mundo mais próspero, justo e seguro.

MAURO VIEIRA, 64, é ministro das Relações Exteriores. Foi embaixador nos Estados Unidos (2010-2014) e na Argentina (2004-2010)

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