Folha de S. Paulo


Luiz Barretto

Saída da crise pelos pequenos negócios

Dois mil e quinze é um ano de ajustes e é de interesse de todos encontrar alternativas para que a economia volte a crescer. Em especial, essa é a busca diária de milhões de empreendedores. Atualmente são mais de 10 milhões de pequenos negócios no Brasil. Juntos, eles representam 27% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.

Enquanto a maioria das pessoas imagina que a solução para a crise só é possível pela macroeconomia, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) acredita que há uma saída aproveitando a força das micro e pequenas empresas.

Cruzar os braços não é opção para quem empreende. Esses brasileiros dependem de gerar faturamento todos os dias nas suas lojas, restaurantes, sites, salões de beleza. Todos eles sabem que não se deve esperar mudanças apenas dos governos –é preciso agir.

Com essa convicção, lançamos o Movimento Compre do Pequeno Negócio, com dois objetivos: 1) mostrar ao empresário que essa é a hora para melhorar sua empresa; e 2) mostrar ao consumidor que a sua decisão de compra fortalece a economia nacional. Será que o consumidor sabe disso?

Ao fazer essa escolha, o consumidor ajuda a gerar empregos: mais da metade dos brasileiros com carteira assinada –17 milhões de pessoas– estão nos pequenos negócios. Mesmo nesse ano, quando gerar empregos se tornou um desafio, o saldo é positivo.

No primeiro semestre do ano, foram 116,5 mil novas vagas nos mercadinhos, cafeterias, pet-shops e outros estabelecimentos de comércio e serviço. Nas médias e grandes empresas, houve 476 mil demissões. Não há como prever se as micro e pequenas vão continuar nesse ritmo, mas levar o consumidor até elas com certeza contribui para isso.

Mas se a motivação do consumidor for menos o mercado de trabalho e mais a sua conveniência, há outra razão para privilegiar os pequenos negócios: eles estão perto da sua casa ou do trabalho.

Deslocamento é um problema em todas as grandes cidades do país, sem contar os custos com estacionamento, combustível etc. Comprar da vizinhança traz facilidade e, mesmo que o cliente não tenha preocupação com o desenvolvimento local, ele também ajuda a fazer o dinheiro circular no seu próprio bairro, na sua cidade.

Nesse momento em que o consumidor está mais seletivo com o que compra e de quem compra, as pequenas também precisam investir em gestão eficiente, atendimento melhor e preços adequados. Por serem menores, elas tem mais flexibilidade para se adaptar às novas demandas e fidelizar os clientes.

Há bons exemplos em negócios tradicionais –como padarias que avisam os clientes pelas redes sociais quando o pão sai do forno– ou em negócios que até pouco tempo atrás não existiam, como os aplicativos para chamar táxi. Inovações decisivas no dia a dia porque atraem clientes e aumentam o faturamento das empresas.

Claro que todo dia é dia de comprar em pequenos negócios, mas, assim como há datas para homenagear pais, mães e namorados, o Movimento Compre do Pequeno Negócio terá seu marco em 5 de outubro. É o Dia da Micro e Pequena Empresa, mas pouca gente sabe.

Queremos transformá-lo em um dia em que as pessoas saiam de casa com o objetivo de comprar em um pequeno negócio. E, obviamente, sem nenhuma contraposição às médias e às grandes, até porque as pequenas também são suas clientes e fornecedoras.

A mobilização já começou no sitecompredopequeno.com.br e nas redes sociais (#compredopequeno). Colocamos a bola em jogo, agora é com a sociedade. A intenção é perder o controle desse movimento, porque ele não é do Sebrae, é para ser abraçado pelos empresários e consumidores. Afinal, todos nós fazemos a roda da economia girar.

LUIZ BARRETTO, 53, é presidente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae Nacional

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