Folha de S. Paulo


Paulo Skaf

A luta continua

O dito popular "gato escaldado tem medo de água fria" reflete bem a atual posição da indústria. É assim que nos sentimos em relação à intenção do governo e, recentemente, também do Senado, por meio de sua Agenda Brasil, de realizar a reforma do PIS-Pasep e da Cofins.

Daniel Bueno

São dois dos tributos mais complexos do sistema tributário nacional e dos mais danosos para as empresas brasileiras, principalmente no que diz respeito à competitividade da indústria nacional. Somados, são dos mais relevantes tributos para a Receita. Em 2014, o fisco arrecadou R$ 250 bilhões com esses dois tributos, o equivalente a um quinto do total da arrecadação federal.

Coincidência ou não, os ajustes de 1999 e 2003 nesses tributos ocorreram também em meio a um cenário de fragilidade econômica e fiscal, como o que vivemos hoje. Ocasionados por diferentes circunstâncias, resultaram em aumento de quase 70% na carga desses tributos no PIB, que saltou de 2,9% na média, entre 1995 e 1998, para 4,9% na média, entre 2003 e 2014.

Sem muito aprofundamento, o ajuste de 1999 foi implementado pelo governo da época diante da necessidade de realizar maiores superavits primários no período 1999-2001. O país vivia uma debilitada situação econômica e fiscal e ainda tinha metas acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que era obrigado a cumprir, depois de empréstimo tomado com o fundo. A alíquota da Cofins foi elevada (de 2% para 3%) e sua incidência estendida para o setor financeiro.

O ajuste de 2003 ocorreu pela necessidade de novo aumento do superavit primário frente à persistência da fragilidade fiscal e econômica do país, dos níveis mais elevados da taxa de juros e, em contrapartida, à prorrogação do acordo com o fundo após novo empréstimo.

Foi implementado o regime não cumulativo para o PIS e para a Cofins, com nova elevação das suas alíquotas, dado o seu sistema de crédito e débito, e estendidas suas incidências sobre as importações.

Esses ajustes produziram aumento da carga tributária e ampliação da complexidade das operações. O resultado foi maior burocracia e maiores custos administrativos para as empresas. É bom lembrar que a proposta inicial era a simplificação e a neutralidade da carga.

O motivo da breve lembrança dos ajustes já realizados nesses dois tributos é chamar a atenção da sociedade e do governo. O setor privado, contribuinte desses tributos, precisa ficar atento e acompanhar esse debate para cobrar do governo que seja ouvido e possa discutir e apresentar suas propostas. O contexto atual causa preocupação. Há um enorme receio de mais um aumento na carga tributária.

O debilitado cenário econômico atual do país, com grave desequilíbrio fiscal nas finanças públicas, traz significativas limitações para a realização de uma reforma que, de fato, corrija as distorções atualmente existentes nesses tributos e que reduza a sua carga tributária.

A Fiesp tem como um dos seus principais pleitos a reforma desses dois tributos, com a eliminação das suas atuais disfunções, a fim de tornar o sistema tributário brasileiro menos oneroso às empresas para proporcionar um ambiente mais competitivo à produção nacional e atrativo ao investimento produtivo.

Compreende que, no atual contexto econômico do país, da mesma forma em que não há condições para uma reforma que promova a redução da carga desses tributos –ao menos no curto prazo–, não se justifica uma reforma que promova novo aumento da carga tributária, sob o risco de afetar ainda mais os setores duramente atingidos pela crise.

A Fiesp se mantém aberta e favorável a um diálogo com o governo federal para realizar uma reforma que promova ganhos para a economia, mas vai lutar contra a elevação de impostos. A sociedade já está por demais escaldada para, mais uma vez, ser surpreendida com uma nova ducha de aumento de impostos.

PAULO SKAF, 60, presidente da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e do Ciesp - Centro das Indústrias do Estado de São Paulo

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