Folha de S. Paulo


EDITORIAL

Janot se fortalece

Deve chegar ao Senado nesta semana a mensagem da presidente Dilma Rousseff (PT) com sua decisão sobre o comando da Procuradoria-Geral da República. No que depender dela, Rodrigo Janot permanecerá no cargo para um segundo mandato de dois anos.

Mais que bem-vinda devido ao desenrolar da Operação Lava Jato, a continuidade na chefia do Ministério Público Federal, entretanto, não está assegurada. Por força da Constituição, a escolha ainda deve ser aprovada pelos senadores.

Primeiro, Janot será sabatinado pelos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça do Senado –e provoca natural apreensão saber que, dos 27 titulares desse colegiado, 8 são investigados por suposta participação no bilionário esquema de corrupção da Petrobras.

Se for aprovado, seu nome seguirá para apreciação do plenário e precisará ter o endosso de ao menos 41 dos 81 membros da Casa.

O trâmite está definido, mas não tem hora para começar. O regimento do Senado não estabelece prazos para deliberações acerca de autoridades indicadas pelo Executivo.

Por causa disso, circularam boatos –espera-se que fossem apenas isso– de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pensava na possibilidade de retardar todo esse processo.

A ideia seria, ainda que provisoriamente, quebrar a linha de frente da Operação Lava Jato –o que poderá acontecer se os senadores não apreciarem o nome de Janot até 17 de setembro, quando se encerra o atual mandato. Sem a recondução aprovada, ele voltaria ao cargo de subprocurador.

No intuito de evitar especulações dessa ordem, Renan parece inclinado a marcar as devidas sessões com a maior brevidade possível. Estando entre os investigados da Operação Lava Jato, o peemedebista sabe que qualquer protelação será entendida como manobra deliberada em desfavor de Janot.

A esta altura, nada soaria mais suspeito do que confrontar o procurador-geral, figura responsável por abrir ações penais contra os congressistas. Além disso, poucos gestos constituiriam maior afronta ao MPF do que retardar, para nem dizer rejeitar, sua recondução.

Na eleição interna do Ministério Público Federal, da qual participaram 983 integrantes da categoria (79% do total), Rodrigo Janot obteve 799 votos, 288 a mais do que em 2013 e 337 de vantagem sobre o segundo colocado (cada um pode sufragar três nomes).

Dito de outra forma, 81% dos procuradores que votaram manifestaram apoio ao trabalho que vem sendo realizado pela cúpula do órgão –no que estão em sintonia com a opinião pública. É de esperar que os senadores também estejam.

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