Folha de S. Paulo


Wagner Gomes

Os jovens rurais e o desenvolvimento sustentável no campo

Nos últimos 20 anos, as distâncias físicas e conceituais entre campo e cidade no Brasil diminuíram. Com a expansão das cidades, as regiões metropolitanas acabaram "engolindo" as cidades menores. As fronteiras estão menos polarizadas.

Somam-se a este movimento as inovações tecnológicas, às redes sociais acessadas tanto por jovens urbanos quanto pelos novos rurais, e o empoderamento comunitário, que promove articulações em prol do desenvolvimento sustentável do campo, em especial da agricultura familiar.

No Brasil existem 4,3 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar, representando 84% do total de unidades. A agricultura familiar produz a maior parte dos alimentos consumidos pelos brasileiros: 70% do feijão, 83% da mandioca, 69% das hortaliças, 58% do leite e 51% das aves. E ainda responde por 74% da mão de obra no campo.

De acordo com anúncio feito no final do mês passado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, a agricultura familiar contará com R$ 28,9 bilhões de crédito para operações de custeio e investimento no ano safra 2015/2016, um aumento de 20% sobre o valor destinado ao setor no último ano safra.

Além do maior volume de recursos destinado à agricultura familiar nos 20 anos do Pronaf, o Plano Safra prevê a criação de dois programas e uma série de medidas para regulamentar a agroindústria familiar e de pequeno porte, expandir os mercados de compras públicas e ampliar a assistência técnica com foco na produção sustentável e especial atenção à região semiárida.

O Nordeste era muito agrário até os anos 1990, quando a região avançou significativamente em tecnologia e equipamentos, ampliando também a visão dos jovens em relação às oportunidades no campo. No semiárido do Ceará, por exemplo, a Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel) já atendeu cerca de 600 jovens e 800 agricultores familiares, desde 2007.

O que observamos hoje é um espaço rural que vai além da produção agrícola, com a presença de produtos e serviços que antes só eram possíveis na cidade.

Eu mesmo, que vivi no município de Apuiarés –na área rural chamada Monte Alverne, uma comunidade com cerca de 30 famílias– poderia ter mudado de vez para a "cidade grande", Fortaleza, onde me graduei em Economia. Mas retornei para minha terra para empreender, ao contrário de muitos habitantes que voltam apenas para visitar a família ou fazer turismo nos finais de semana.

A Adel atua em quatro frentes: formação, microcrédito, acesso à tecnologia da informação e redes cooperativas. E assim como outras entidades, incluindo o Instituto Souza Cruz, de quem somos parceiros no projeto Novos Rurais, somos verdadeiros agentes de reconfiguração do espaço rural.

Um dos nossos focos de atuação é incentivar os jovens a empreender no campo. São filhos de agricultores que podem ou não seguir os passos dos pais. E, se decidirem permanecer na zona rural, podem trilhar caminhos próprios, diversificando a produção na propriedade dos pais, com projetos agrícolas ou não. Já incentivamos projetos bem sucedidos de criação de ovelhas e aves para corte, confecção de roupas, lan house, oficina mecânica e até salão de beleza.

WAGNER GOMES é diretor executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel), do Ceará

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