Folha de S. Paulo


editorial

Ruínas palestinas

Naquilo que já foi um condomínio residencial, blocos inteiros de edifícios converteram-se em enormes pilhas de escombros; os prédios que ainda estão de pé são disputados como moradia, e lençóis fazem as vezes de paredes e tetos nos apartamentos despedaçados.

Construções em ruínas não constituem uma paisagem incomum na faixa de Gaza um ano depois da última incursão das Forças Armadas de Israel naquele território.

Durante 50 dias, uma sequência de ataques matou 2.251 palestinos (a maioria dos quais civis) e 72 israelenses (seis civis) e deixou um rastro de destruição no perímetro árabe. Cem mil pessoas ainda não recuperaram suas casas.

Estima-se que, dado o ritmo atual, serão necessários quase 20 anos para reconstruir os imóveis destruídos na guerra que opôs a facção radical Hamas e Israel –a quarta desde 2006.

A lentidão se deve sobretudo ao controle israelense para a entrada de materiais de construção –bem como de pessoas, produtos e insumos– na área palestina.

Tal bloqueio fragiliza ainda mais uma economia arruinada pelos conflitos. O PIB de Gaza, uma faixa de terra com menos de um quarto do tamanho da cidade de São Paulo e 1,8 milhão de habitantes, contraiu-se 15% em 2014, e a renda per capita do território é 30% menor do que há 20 anos; a taxa de desemprego passa dos 40%, e 40% da população vive na pobreza.

À ruína física e econômica se somam privações políticas e sociais. No poder desde 2006, a liderança do Hamas involuiu para algo próximo a uma ditadura islâmica. Não há eleições nem imprensa livres.

Dado esse contexto, a única maneira de recuperar as finanças –e, por que não, propiciar mais liberdades– parece ser um acordo de paz entre israelenses e palestinos.

Segundo o Banco Mundial, num ambiente sem conflitos e sem a ocupação de Israel, a economia de Gaza seria ao menos quatro vezes maior. O centro de estudos Rand Corporation calcula que a paz poderia trazer US$ 50 bilhões a mais para os territórios palestinos em dez anos (o PIB é de US$ 13 bilhões).

O cessar-fogo que se seguiu ao conflito, porém, não resultou em iniciativas concretas visando a um acordo. Persiste em ambos os lados um discurso marcado pela dubiedade e por acusações mútuas, o oposto do tom conciliador necessário para avançar.


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