Folha de S. Paulo


David Colmenares

Foco e superação

Queremos uma economia de mercado ativa e não há espaço para lamentações. É inegável que a situação macroeconômica do Brasil esteja delicada, mas é igualmente inegável que o país tem plenas condições de se transformar. O Brasil é maior que a crise.

As medidas tomadas pela equipe econômica visam ao médio e longo prazo e são o ponto de virada para um país melhor. Vemos um ajuste fiscal sendo formulado com expectativas de médio prazo que se mostram estruturantes para que o cenário negativo seja revertido no segundo semestre e se torne positivo já em 2016. Este cenário é, inclusive, apontado como viável pelo Fundo Monetário Internacional, que sinalizou apoio à política econômica atual.

A visão de que as medidas adotadas estão corretas e que a economia brasileira vive um processo que levará a melhorias à frente é compartilhada pela agência Standard & Poor's, que manteve sem rebaixamento a nota de risco do Brasil.

Temos o câmbio a um nível mais próximo do equilíbrio que as condições econômicas sugeririam, beneficiando a competitividade do produto brasileiro no exterior. A confiança na economia brasileira retornará gradualmente, atraindo capitais que busquem investimentos de cunho produtivo, confiando no longo prazo.

Ante o receio de haver uma alta mais preocupante do dólar, o que pressionaria ainda mais a inflação, a previsão é que a taxa de câmbio para o final de 2015 já está sendo revista para baixo por parte de economistas do mercado financeiro, outro indício de que a economia brasileira sinaliza meios de se transformar.

A infraestrutura tem recebido bastante atenção por parte do governo. O Ministério da Fazenda está empenhado na definição de um programa estruturante e de longo prazo de concessões para investimentos em infraestrutura. Tendo como foco a obtenção de recursos, tem se aproximado inclusive de investidores institucionais estrangeiros. Outro exemplo são os 35 acordos assinados entre o Brasil e a China, um pacote de investimentos que abrangerá oito áreas e podem chegar a US$ 53 bi nos próximos anos.

Ainda observando os fatos, podemos verificar que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking das economias mundiais, o que não é pouco e dá a noção de escala e importância do mercado brasileiro. A posição foi determinada de acordo com dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional em outubro de 2014, e o sétimo lugar é reafirmado considerando-se diferentes abordagens –tanto no PIB nominal quanto no PPP (mede o quanto uma determinada moeda pode comprar em termos internacionais).

Minha vivência na área de seguros, na qual atuo há mais de duas décadas, me fez aprender a ver o mundo no revés. Não há tempestade que dure para sempre. Como executivo da seguradora global Zurich assisti a inúmeros necessitados em diversas situações, após perdas de todos os tipos. Assim como vivenciei recessões econômicas e catástrofes naturais, também experimentei grandes crescimentos.

Eu conheci de perto a superação, e é essa qualidade que define meu modo de enxergar o mundo e estabelecer minha conduta –para a vida pessoal inclusive. Nenhum grande país se construiu sem crises, elas moldam comportamentos.

A travessia que vivemos neste momento exige concentração e esforço, as empresas devem se firmar e projetar para além do curto prazo, superando este período com foco e disciplina. É na crise que invenções, descobertas e grandes estratégias nascem. Deve-se apertar o cinto, mas o exagero estrangula: economistas do mundo todo orientam que em momento de crise é preciso atuar com foco também no médio e longo prazo, paralelamente às ações pontuais.

Nosso mercado consumidor é vultoso, temos indústria grandiosa e força de trabalho vigorosa. A comunidade financeira no exterior começa a melhorar a receptividade em relação à economia brasileira e nós, aqui, não podemos esquecer: o Brasil é maior que a crise e tem estrutura consistente para retomar o crescimento rigoroso da economia.

DAVID COLMENARES é presidente de Seguros Gerais da Zurich no Brasil

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