Folha de S. Paulo


editorial

Imprudência permanente

Desde que o Código de Trânsito Brasileiro, de 1997, tornou obrigatório o uso do cinto de segurança por motoristas e passageiros, o emprego desse dispositivo aumentou bastante, mas ainda está longe de ter-se universalizado.

A recente morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo despertou a atenção da opinião pública para uma imprudência. Segundo pesquisa do IBGE, 49,8% dos brasileiros afirmam que nem sempre afivelam o cinto quando viajam no banco de trás.

A parcela é ainda menor entre os jovens. Na faixa de 18 a 29 anos, 40,3% dos entrevistados disseram que sempre usam o cinto quando estão na parte de trás do carro.

Estima-se que o país perca cerca de R$ 28 bilhões ao ano com acidentes de trânsito. Foram 171 mil internações apenas em 2013.

Cifras como essas poderiam ser reduzidas com o uso do cinto de segurança. Vale lembrar que, assim que a obrigatoriedade entrou em vigor, houve diminuição de 21% nas mortes por colisão na cidade de São Paulo, e o Hospital das Clínicas computou queda de 40% no atendimento a acidentes de trânsito.

Apesar desses avanços, a resistência persiste. De acordo com levantamento da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), 69% dos ocupantes dos assentos posteriores que morreram nas rodovias paulistas de 2012 a 2014 não utilizavam o item de proteção.

Por que a conscientização caminha tão devagar?

Os passageiros dos bancos traseiros parecem ser afetados por uma falsa sensação de segurança. Tudo se passa como se os assentos da frente fizessem as vezes de anteparo no caso de colisão. Ocorre que, no caso de uma batida frontal, os ocupantes do carro são arremessados para diante com uma força até 50 vezes maior que seu peso.

Essa ilusão não afeta apenas os brasileiros. Em maio, o famoso matemático americano John Nash sofreu um acidente em Nova Jersey. Ele e sua mulher, Alicia, seguiam no banco de trás de um táxi e foram ejetados do veículo após uma colisão. Os dois morreram. O motorista, que usava o cinto, sobreviveu.

O grande problema é que, embora a infração acarrete multa (R$ 127,69 por passageiro sem cinto) e cinco pontos na habilitação, ela não tem sido fiscalizada com o mesmo rigor dedicado aos ocupantes dos bancos frontais –destes, 79,4% afirmam que sempre afivelam o cinto, diz o IBGE.

É preciso que o poder público, além de insistir em campanhas informativas, oriente seus agentes de trânsito a zelar pela segurança de todos os passageiros.


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