Folha de S. Paulo


editorial

Insuficiente

Desde o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) já se sabia que, ao longo do ano, a dívida do setor público brasileiro continuaria a crescer, a despeito das mudanças introduzidas na política econômica do governo.

O programa de ajuste das finanças nacionais anunciado pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda) prometia, por meio de aumentos de impostos e cortes de gastos, viabilizar uma desaceleração progressiva do avanço da dívida, até que ele fosse interrompido em 2016.

Os dados conhecidos até o momento, contudo, sugerem que esse roteiro não vem sendo cumprido. Em maio, a dívida pública bruta chegou a 62,5% do PIB, o valor mais alto já registrado (pela metodologia de cálculo atual, sob a qual há dados desde 2006). Há um ano, estava em 54,3%.

O ritmo de expansão ainda excede aquele almejado e prometido pelo governo.

E isso significa que continua alta a possibilidade de que as agências de classificação de risco rebaixem a nota de crédito da dívida soberana brasileira, deixando de considerar o país um investimento seguro –o que configuraria um revés não só para o governo, mas para a economia nacional.

O fator principal que mantém o endividamento em trajetória perigosa é o decepcionante resultado primário (excluídas despesas com juros) do setor público.

Os governos estaduais e municipais até têm conseguido poupar recursos para quitar suas dívidas numa proporção superior à que era esperada. Na esfera federal, no entanto, verifica-se o contrário.

O desempenho do governo Dilma Rousseff está aquém do necessário por diversos motivos, entre os quais se destacam dois.

Primeiro: o Congresso não tem aprovado integralmente as medidas de reforço de receitas e de redução de despesas propostas pelo Executivo. Isso, no entanto, já deveria estar na conta, pois ocorreu em todos os episódios anteriores de ajuste das finanças.

Segundo, e mais importante: a arrecadação de tributos tem ficado muito abaixo da projetada, como reflexo da queda da atividade econômica, mais brusca do que antecipavam as autoridades.

Assim, a promessa de um superavit público consolidado de R$ 66 bilhões em 2015 fica menos crível a cada dia que passa.

Poucos duvidam de que o governo terá de anunciar uma nova meta, mais realista. As perguntas se concentram em saber quando isso será feito, qual será o novo objetivo e como ele repercutirá entre os agentes econômicos –em especial as agências de classificação de risco.

É um novo, e delicado, desafio.


editoriais@uol.com.br


Endereço da página:

Links no texto: