Folha de S. Paulo


editorial

Dilema grego

Não importa o resultado do plebiscito de domingo (5); os gregos terão de enfrentar crise econômica e política muito mais grave e urgente do que a conhecida até agora.

A Grécia não conta com mercado financeiro, pode não contar com um governo e está, na prática, outra vez quebrada, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Na segunda (6), o país não poderá dispor de seus bancos sem que lhes sejam concedidos empréstimos e capitais de emergência. Saques e inadimplências deixaram as instituições à beira da iliquidez e da insolvência: não teriam como devolver depósitos e não recebem seus haveres, dada a depressão.

Caso os bancos permaneçam fechados, a Grécia logo ficará paralisada. Caso reabram sem garantias financeiras, quebrarão.

Dificuldade semelhante se impõe ao governo. Caso seja derrotado no plebiscito, o gabinete do partido Syriza pode renunciar. Ainda que não o faça, terá sofrido um voto de desconfiança e dificilmente conseguirá barganhar algo melhor com seus credores. Precisará abandonar pelo menos seu programa.

Caso os gregos decidam apoiar a decisão de endurecer as negociações, a União Europeia promete fechar as portas ao Syriza.

Na hipótese de queda do governo, a organização de um novo gabinete será conturbada, pois não há coalizão que possa substituir o Syriza e de pronto retomar as tratativas com a Europa.

Se houver ruptura, caso a Europa não restabeleça transfusões monetárias para as instituições financeiras gregas, o país estará perto de adotar moeda própria ou alguma variante emergencial. Não terá outros meios de resgatar seus bancos a não ser pela criação de dinheiro, pois não dispõe de euros.

Mesmo que vença todos esses desafios imediatos, o governo grego terá de enfrentar as consequências de estar outra vez falido.

Em relatório de avaliação da dívida grega, o FMI, também um credor, constata ser "imperativo" um empréstimo adicional, sem o que o país não honrará compromissos.

Ademais, dadas as perspectivas de crescimento e poupança pública nos próximos anos, a dívida da Grécia crescerá de modo explosivo. Serão necessárias novas concessões, como extensão do prazo de pagamento e perdões de débitos.

Caso tal diagnóstico se confirme, não será com boa vontade que a União Europeia concederá mais tempo e dinheiro à Grécia.

Afundados em tumulto mais intenso, os gregos terão de capitular e negociar novo socorro em posição ainda mais subalterna, ou abandonar o euro. Nesse cabo de guerra marcado pela incompetência e pela intransigência, não haverá vencedores –em nenhuma hipótese.

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