Folha de S. Paulo


opinião

Marianne Pinotti e Ana Estela Haddad: Dia de cuidar de quem cuida

O cuidado que uma mãe oferece ao filho é determinante para sua estruturação e para o seu desenvolvimento, em muitos aspectos. Para além da garantia do bem-estar físico, é na profunda relação de afetividade que se ensina o indizível, que se transmitem valores –seja por meio dos exemplos que a mãe dá ou pelas comunicações que estabelece apenas com um olhar.

O cuidar se traduz na alegria diante de aprendizados e conquistas, trazendo segurança e confiança. É o abraço na hora do choro, que sustenta emocionalmente. É a escuta. É o esperar o tempo do outro. É o coração apertado nos momentos de distância. É o desenvolvimento de um ser forjado no tempo que lhe é dedicado.

Essas reflexões foram essenciais para a criação de políticas públicas transversais, no âmbito do "Ser Mãe em São Paulo", uma ação da Prefeitura de São Paulo que reúne diversas atividades no mês de maio. Uma dessas ações será voltada às mães que cuidam de filhos com algum tipo de deficiência.

Muitas delas, frequentemente, lidam com o preconceito e a discriminação imputados a seus filhos –o que elas descrevem como algo que dói na alma e na carne. Outras lidam com dúvidas que surgem no cotidiano, seja em relação à saúde, à educação ou ao desenvolvimento. E há aquelas que convivem constantemente com o medo do agravamento de um quadro de saúde (muitas deficiências são oriundas de doenças raras, de difícil diagnóstico e tratamento, por exemplo) e até da morte.

Além disso, em alguns lares, a dedicação quase exclusiva pode também gerar conflitos familiares. Tudo isso pode provocar um constante estado de estresse e desencadear quadros depressivos. Além disso, por dedicarem tanto tempo e energia aos filhos, algumas mães não encontram tempo ou sequer se lembram de agendar consultas ou de fazer exames preventivos.

Deixam também de lado o trabalho e abandonam projetos pessoais. E é preciso lembrar que, quanto maior a vulnerabilidade socioeconômica, mais graves essas questões se apresentam.

Como proposta inicial para atender à população de "mães-cuidadoras", o "Ser Mãe em São Paulo" programou uma roda de conversa para que possam falar sobre suas experiências em um ambiente seguro, mediado por profissionais capacitados.

Como desdobramento desta ação, serão realizados cursos, no segundo semestre deste ano, com três eixos principais: o primeiro é voltado a conhecimentos técnicos específicos (transferência da cama para a cadeira de rodas, prevenção de escaras, manejo de sonda, por exemplo); o segundo trata dos direitos das pessoas com deficiência; e o terceiro traz estratégias para que a mãe aprenda a cuidar de si mesma, de sua saúde física, mental e emocional.

Esperamos alcançar uma parcela de mães que, muitas vezes, têm suas necessidades específicas pouco reconhecidas. Também desejamos, com este texto, homenagear, na figura das mães-cuidadoras de pessoas com deficiência, todas as demais.

Porque, como disse o teólogo Leonardo Boff, nós não temos apenas cuidado; nós somos cuidado e, sem ele, deixamos de ser humanos. Se mãe é quem cuida, a maternidade nada mais é que a suprema manifestação da humanidade. Por fim, queremos convidar todos os leitores hoje, Dia das Mães, e em todos os dias, a cuidarem daquelas que sempre cuidam.

MARIANNE PINOTTI, secretária da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de São Paulo
ANA ESTELA HADDAD, primeira-dama do município de São Paulo e Coordenadora da Política Municipal para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância (São Paulo Carinhosa)

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