Folha de S. Paulo


Editorial: Civilizar o trânsito

Ainda que se tratasse de caso isolado, já seria positiva a notícia de que, na comparação com o mesmo período do ano passado, diminuiu 45,5% o número de mortos nas rodovias paulistas durante o feriado do Dia do Trabalho, caindo de 44 para 24 o total de óbitos.

Tanto melhor que a essa redução expressiva se somem outros resultados alvissareiros.

Na data comemorativa de Tiradentes, por exemplo, as 25 mortes registradas neste ano nas estradas de São Paulo representaram queda de 32% em relação às 37 computadas em 2014. Também na Páscoa a mortalidade foi menor, passando de 31 para 22 casos (29% a menos).

Há mais. Nas rodovias federais, 120 pessoas perderam a vida durante deslocamentos no Carnaval, o menor montante desde 2007. De acordo com a polícia, na comparação com 2014, o índice de mortos a cada milhão de veículos caiu 28%.

Verdade que cada uma dessas ocasiões tem suas particularidades, e o fato de estarem em questão números relativamente pequenos desaconselha que se façam afirmações conclusivas a respeito do trânsito brasileiro. Não parece despropositado, de todo modo, olhar para essas estatísticas com alguma esperança.

Basta lembrar que, ao longo de todo o ano de 2014, o índice de óbitos por milhão de veículos nas estradas federais diminuiu 8,4% (para 8.227). Em 2013, considerando-se todas as mortes de trânsito no país inteiro, houve redução de 10% em relação ao ano anterior, a retração mais significativa desde 1998.

Ainda há um longo caminho, porém, até que o Brasil alcance o patamar de países desenvolvidos. A carnificina das vias brasileiras ceifou 40,5 mil vidas em 2013, ou 20,1 a cada 100 mil habitantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as taxas dos EUA e do Reino Unido ficam em torno de 11 e 4.

Esse percurso jamais se completará sem que as três esferas de governo decidam, em conjunto, investir em melhoria das ruas e rodovias, aprimorar tanto as tecnologias como as estratégias de fiscalização e expandir as ações integradas para além dos feriados.

Não será barato. Mas, se as autoridades não se sensibilizarem com a morte de mais de 40 mil brasileiros por ano, que se lembrem de que os acidentes de trânsito custam de 1% a 3% do PIB de cada país.


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