Folha de S. Paulo


O verde e o maduro

Até dezembro, quando se realiza em Paris a 21ª conferência multilateral sobre a mudança climática, os temas da mitigação do aquecimento global e da adaptação a ele ganharão espaço crescente no noticiário internacional.

Muito já se falou do primeiro, foco das maiores disputas entre 192 países participantes. Mas é o segundo que merece mais atenção, inclusive do governo brasileiro.

Mitigação, na língua peculiar criada em mais de duas décadas de negociações, se refere ao esforço para conter a poluição por gases que aquecem a atmosfera.

Paris deveria produzir um acordo capaz de manter a elevação da temperatura média global abaixo dos 2°C, limite além do qual se estima que o risco climático seria excessivo, com estiagens, ondas de calor e chuvas torrenciais mais frequentes, como a que assolou Salvador nesta segunda-feira (27).

Amadurece entre especialistas, no entanto, a convicção de que tal resultado não será obtido em Paris. Cada nação ficou de divulgar metas determinadas domesticamente para diminuir suas emissões de carbono. Poucas o fizeram até aqui, e nada de muito ambicioso.

O Planalto parece inclinado a fazê-lo só em outubro. Pouco se debate o assunto no país, mas há chance de que emerja algum compromisso nacional de mitigação durante visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA em 30 de junho.

Essa data marca também o prazo fixado pelo governo brasileiro para finalizar o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNA), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. Esse elenco de medidas destinadas a preparar vários setores –portos, agricultura, cidades– para a mudança do clima será posto em consulta pública no segundo semestre.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou na semana passada que o PNA terá objetivos específicos: "Você já viu plano sem meta? [Sem isso] não é plano, é carta de intenção".

Eis aí uma promessa alvissareira. Ajuda a desfazer parte do mal-estar criado pela demissão dos principais autores do estudo "Brasil 2040", em preparação na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) até a chegada do novo ministro, Roberto Mangabeira Unger.

O trabalho juntava esforços de prestigiadas instituições de pesquisa para projetar cenários sobre impactos do clima no Brasil, insumo fundamental para traçar qualquer plano de adaptação. A SAE assevera que o estudo não será truncado, mas parece duvidoso que seus frutos possam ser colhidos em tempo de vitaminar o PNA.


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