Folha de S. Paulo


opinião

Ricardo Patah: O Brasil está inquieto

O Brasil democrático visto das ruas vai bem. Pelo menos foi o que demonstraram as manifestações pacíficas e tranquilas realizadas até agora - contra ou a favor do governo.

As pessoas vão às ruas para protestar porque querem que o nosso Brasil saia da crise, ou melhor, das crises, especialmente a econômica e à provocada pela corrupção, um mal onipresente em quase todas as esferas públicas.

A lista de desequilíbrios econômicos é inesgotável: mas alguns deles precisam ser citados, como a inflação em torno de 8% e os juros na estratosfera, de 12,75% ao ano, os mais altos do mundo. Isso sem contar que os investimentos públicos e privados estão quase a zero, e as tarifas de energia em alta, juntamente com o desemprego.

Com a nossa economia naufragando e os escândalos de corrupção se sucedendo em dimensões oceânicas –mensalão, petrolão e agora Zelotes (qual será o próximo?)– é óbvio e natural que os cidadãos mostrem a indignação de forma democrática e respeitando as leis, como vem acontecendo com as atuais manifestações.

Para nós, trabalhadores, que já fomos penalizados, por exemplo, com restrição de acesso ao seguro-desemprego, um castigo que atinge milhões de pessoas vítimas da grande rotatividade no mercado de trabalho (outro dos nossos grandes problemas atuais), somos atingidos agora, pelo desemprego, provocado pela corrupção. Até agora a perda de vagas acontecia só pela redução do mercado.

A corrupção na Petrobras fez com que a empresa freasse seus investimentos –cerca de 10% do total do país– e deixasse de fazer pagamentos a empresas contratadas ou terceirizadas. O resultado disso tudo é um grande número de demissões, ainda não totalmente contabilizadas, em quase todos os estados brasileiros: os trabalhadores saem, e muitos deles, sem receber um tostão.

As grandes construtoras, envolvidas na operação Lava Jato, paralisadas pelas prisões de muitos de seus diretores e pelas investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, também demitem. Isso sem contar que a nossa economia passa por uma grande estagnação e caminha para uma recessão apontada pelo Boletim Focus do Banco Central, que pode chegar a menos 1,2% do PIB, segundo algumas previsões. O que deve aumentar em muito o número de desempregados. Um caos, diga-se.

O dinheiro desviado da maior empresa pública brasileira, orgulho nacional, está em contas secretas, ou nem tanto, em países mundo afora. Ainda bem que a Justiça está agindo.

Não bastasse tudo isso, ainda temos a esculhambação no Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), duas ferramentas usadas pelos filhos dos trabalhadores em cursos universitários e ou de qualificação profissional. O primeiro sofre com uma desestruturação nunca vista e o segundo com a dificuldade no repasse de verbas.

A UGT (União Geral dos Trabalhadores), foi a única central que apresentou, no começo do ano, por escrito, à presidente Dilma e aos ministros da área econômica, propostas concretas para tentar superar a atual crise econômica.

Uma delas previa a redução do tamanho do governo, com a diminuição do número de ministérios (hoje são 39). Só para uma simples comparação: os EUA, país mais rico do mundo, tem 15 ministérios. E a Alemanha, a mais rica da Europa, tem 17.

Sabemos que presidente Dilma joga todo o seu esforço para endireitar a economia. Mas as ruas estão com pressa. E o Brasil está inquieto.

RICARDO PATAH é presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores-UGT

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