Folha de S. Paulo


Editorial: Sol para todos

Um dos poucos efeitos positivos do tarifaço nas contas de luz, fruto da gestão temerária do setor pelo governo federal, foi favorecer a viabilidade da energia solar (fotovoltaica). Quem sabe agora o Brasil dedicará atenção à fonte alternativa que mais cresce no mundo.

O planeta conta com painéis solares para gerar 177 gigawatts (GW) de eletricidade, dos quais 38,7 GW foram instalados em 2014 –crescimento de 28% sobre o ano anterior. O montante, contudo, representa menos de 1% de toda a capacidade de geração mundial.

Na América do Sul, o Chile está na frente, com 400 megawatts (0,4 GW). O Brasil projeta superar tal marca só em 2021. A energia solar nem aparece na matriz brasileira: 70,6% são gerados por hidrelétricas, 18,3% por carvão, petróleo e gás natural, 7,6% por biomassa, 2,4% por combustível nuclear e 1,1% por ventos (dados de 2013).

Isso pode começar a mudar agora que os preços da eletricidade dispararam. Segundo levantamento da consultoria PSR noticiado no jornal "Valor Econômico", a alta nas tarifas tornou a energia solar competitiva em 23 Estados e no DF.

Viabiliza-se sobretudo a modalidade de geração distribuída. Imóveis residenciais e comerciais que instalem painéis podem recuperar o investimento de R$ 30 mil a R$ 40 mil em seis anos, porque já se permite, no país, que o gerador isolado injete na rede pública a energia que não estiver consumindo.

Há menos de 500 dessas instalações no Brasil, entretanto. Esse número deve dobrar em 2015 e ultrapassar 160 mil até 2023, projeta a Empresa de Pesquisa Energética, do governo federal. A capacidade instalada chegaria então a 0,8 GW, cifra muito aquém dos 10,6 GW que a China tem hoje.

Não falta sol por aqui. Falta uma política mais agressiva de incentivo para essa energia limpa, que se instala em questão de semanas. Ela aliviaria a dependência nacional de termelétricas e hidrelétricas, que costumam demorar anos ou até décadas para ficar prontas.

Uma maneira de estimular particulares a cogitar a inversão inicial seria diminuir a taxação para melhorar seus ganhos mensais e, assim, encurtar o tempo de retorno do investimento. Com exceção de Minas Gerais, os Estados cobram ICMS sobre o total da eletricidade retirada da rede, sem considerar a energia reinjetada, quando faria mais sentido tributar só o saldo.


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