Folha de S. Paulo


Editorial: Novo ritmo chinês

A taxa de crescimento da China cai desde 2011. O país passa por uma transição em seu modelo de desenvolvimento, que visa superar a fase da rápida industrialização e de investimento em infraestrutura e, ao mesmo tempo, encontrar novas fontes de dinamismo baseadas na inovação e nos serviços.

Não será tarefa fácil. O empuxo industrial transformou a China em um país de renda média. Seu desenvolvimento ocupa lugar único na história, pelo gigantismo da nação e pela rapidez das mudanças.

A experiência internacional sugere que o maior desafio está no próximo passo: passar da etapa de absorção de tecnologia à geração de conhecimento próprio.

À parte os pioneiros do capitalismo industrial, poucos países atingiram tal patamar. Todos estão na Ásia —Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e Cingapura são os principais. Mas, por suas dimensões, um sucesso chinês ao galgar tal estágio configuraria outro ineditismo.

O país parece ter dinamismo para tanto. Precisará, todavia, superar os desequilíbrios do modelo anterior, apoiado no dirigismo governamental e em políticas de crédito para setores privilegiados.

O esgotamento da estratégia ficou claro depois da crise de 2008, quando as autoridades chinesas reagiram ao risco de recessão com um pacote de infraestrutura e construção civil financiado por empréstimos bancários. O país logo saiu do apuro, mas ao custo de investimento imobiliário excessivo, formação de bolha de crédito e excesso de capacidade em várias indústrias.

Dada a nova conjuntura, foram fixadas metas mais modestas para o PIB —7% neste ano, ante 7,5% em 2014. Num prazo mais longo, o crescimento pode ser inferior a 5%. O rearranjo não será ruim para a China, pois devem emergir novos setores de consumo e serviços em uma economia que se sofistica.

Para o restante do mundo, a redução do ritmo chinês constitui uma ameaça, sem dúvida, mas também uma oportunidade. O principal consumidor do planeta não terá mais o foco nas matérias-primas. A corrida acirrada será pela maior classe média do mundo.

As implicações são óbvias para o Brasil, que tem na China seu maior parceiro comercial. Pequim absorve 18% das nossas exportações, mas apenas três produtos —soja, minério de ferro e petróleo— representam 80% das vendas.

Para reduzir essa concentração será preciso restaurar a capacidade brasileira de competir em produtos industrializados, o que demanda, além de medidas internas, uma nova estratégia de inserção no comércio internacional.


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