Folha de S. Paulo


Fabio Victor: Carnaval vai melhorar quando descobrir que trio não é bloco

Bem antes dos blocos, que hoje unem mais o paulistano ao seu próprio Carnaval, havia os cordões.

Nasceram na primeira metade do século 20 e, como nos soprou Plínio Marcos, tinham as características do que ainda hoje é um bom bloco: festa espontânea de rua, com batuque, catarse e rituais.

O Carnaval é um mergulho de quatro dias na música, na festa e no álcool para aliviar a náusea do mundo -a dor da perda, as derrotas de cada dia, a ruína que nos cerca.

E o melhor do Carnaval são os blocos de rua. É ótimo, pois, ver a prefeitura estimular esse tipo de festa em São Paulo.

Mas, como alguém criado no Carnaval de rua de Olinda e Recife, o melhor do país, me permito uns pitacos.

Primeiro, um esclarecimento: trio elétrico não é bloco. Bloco tem orquestra (ou batucada) no chão, e isso distingue o bom carnaval de rua.

Segurança é importante, mas foi estranho ver bloco com 30 gatos pingados escoltados por um carro da PM. Por que não concentrar a polícia nos blocos maiores?

Se há excesso de zelo aqui, melhor seria azeitar a produção da festa em aspectos como música e divulgação, ainda sofrível (quebrei a cara duas vezes ao me guiar pela programação oficial).

Música: precisa ser boa e bem tocada, só vontade não basta. Vi blocos assassinando melodia e ritmo. Precisam de bons músicos, diletantes ou profissionais -e, neste caso, patrocinadores ou prefeitura podiam bancar parte do cachê.

Há, claro, exceções, como a Espetacular Charanga do França, que fez jus ao nome.

Aprimorar esses aspectos não significa "profissionalizar" a festa, este termo odiável mas que parece cair como luva ao Carnaval de Salvador.


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