Folha de S. Paulo


André Barcinski: Paraty vive aumento da criminalidade

"Foi uma mancha sangrenta em nosso Carnaval." Assim o inspetor Santos, da Polícia Civil de Paraty, reagiu quando liguei para perguntar sobre o incidente ocorrido na madrugada de domingo (15), na praça da Matriz, em pleno centro histórico, quando dez pessoas foram baleadas durante tiroteio entre grupos de traficantes rivais. A frase do policial saiu carregada de tristeza, mas o "nosso" evidencia o orgulho que os paratienses têm do seu Carnaval, um dos mais tradicionais do litoral fluminense, conhecido por blocos divertidos, intensa participação da comunidade e uma predileção por antigas marchinhas.

Não há folia, porém, capaz de mascarar uma verdade incômoda: o aumento da criminalidade nos últimos anos. Segundo estudo publicado em 2014, Paraty é a terceira cidade do RJ com o maior número de assassinatos per capita, atrás apenas de Mangaratiba e Cabo Frio.

Por trás da beleza dos casarões coloniais, há bairros onde grupos de traficantes agem ao seu bel-prazer. Por toda a cidade, há pichações nos muros que remetem a conhecidas facções criminosas como o Comando Vermelho.

Moradores dizem que a situação piorou depois da instalação das Unidades de Polícia Pacificadoras na capital, que teria causado uma migração da bandidagem para o litoral.

Paraty é admirada em todo o mundo por sua beleza e charme. Mas os turistas que a curtem de passagem não sabem que a cidade não conta com um hospital decente, tem crescentes problemas com o tráfico e um sistema de água e esgoto iniciado há pouco mais de um ano.

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas).


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