Folha de S. Paulo


Editorial: Bola levantada

Os 7 a 1 para a Alemanha sem dúvida reforçaram a percepção, mas desde antes do vexame na Copa do Mundo o país do futebol já não fazia jus a esse epíteto tão recorrente. Se há uma modalidade esportiva em que o Brasil passou a exercer hegemonia nas últimas duas décadas, ela é o vôlei.

A impressionante lista de títulos conquistados pela seleção masculina e pela feminina não veio por acaso. Resultou de uma injeção de dinheiro descomunal para os padrões do esporte olímpico brasileiro e de um bem-sucedido planejamento de longo prazo.

Peça central nessa engrenagem, o acordo de patrocínio entre o Banco do Brasil e a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) viu-se ameaçado nas últimas semanas.

Movida por reportagens feitas pela emissora ESPN Brasil desde o início do ano, a Controladoria-Geral da União (CGU) examinou as contas da CBV e detectou irregularidades com os recursos públicos.

Segundo o relatório do órgão de controle, havia problemas em 13 contratos. Juntos, somam R$ 30 milhões em pagamentos realizados de 2010 a 2013, na gestão de Ary Graça Filho, hoje presidente da Federação Internacional de Vôlei.

Os auditores constataram que uma parte do bônus por desempenho oferecido pelo Banco do Brasil não era repassado aos atletas nem à comissão técnica.

Perceberam também que os gastos com despesas administrativas e operacionais cresceram em proporções muito acima das que se poderiam justificar pela inflação. Verificaram, ademais, que a CBV, nesse período, favoreceu empresas de dirigentes e ex-dirigentes da entidade, ou de parentes deles.

Diante disso, e instado pela própria CGU, o Banco do Brasil decidiu suspender o patrocínio ao vôlei –R$ 70 milhões por ano, segundo apuração desta Folha– até que a CBV adotasse medidas com vistas a garantir a lisura dos contratos.

Essa não foi a única reação. Técnicos e jogadores de vôlei têm protestado abertamente contra os desmandos administrativos, numa atitude pouco comum entre atletas de outras modalidades.

Além disso, ao menos 17 grandes empresas públicas e privadas responsáveis por investimentos nas confederações esportivas brasileiras pretendem assinar um pacto em prol de melhor gestão dos recursos nessas entidades.

São alvissareiras tais mudanças de atitude. O vôlei, que com razão era considerado um exemplo a ser seguido pelos inegáveis méritos dentro das quadras, tem a chance de, também fora delas, impulsionar a modernização do esporte.


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