Folha de S. Paulo


Editorial: Planalto de pressões

De positivo, do ponto de vista de seu fortalecimento político, a presidente Dilma Rousseff (PT) pode contar com pouca coisa neste período pós-eleitoral.

A nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda foi bem recebida, e não só pelos setores financeiros, no que sinaliza de empenho para corrigir o crescente descontrole na economia.

Em relação à inflação, por exemplo, o que se vinha verificando era bem mais do que um simples desajuste nos preços. A sistemática recusa a enfrentar a realidade, recamando-a de cosméticos contábeis, parece ter sido interrompida.

Se a atitude representa tanto um mea-culpa como uma afirmação da personalidade presidencial, decorre daí uma consequência quase automática –um relativo distanciamento entre Dilma e seu partido.

A indicação de um ortodoxo para a área econômica acabou absorvida pelos setores mais duros do PT. Nada indica, todavia, que venha a ser essa a única fonte de descontentamentos da agremiação.

A reforma ministerial diminuirá, pelo que se insinua, o espaço do governo entregue ao petismo; além da dependência do Planalto com relação ao PMDB, que se agravou, surgem novos comensais na festa fisiológica, com o PSD, de Gilberto Kassab, em posição destacada.

Natural que o PT, sequioso por acomodar sua plêiade de derrotados nas urnas, seja um potencial gerador de atritos nesse rearranjo.

Outro formigueiro de dificuldades, cujas dimensões mal se prospectam, está no caso Petrobras. Até que ponto atingirá a Presidência é uma pergunta não de todo descabida, mas que talvez cumpra, neste momento, substituir por outra.

Dilma terá condições de atribuir plena responsabilidade dos desmandos na estatal a esquemas erigidos em gestões anteriores, separando-se dos escândalos dos anos Lula? O episódio dificilmente teria tomado a dimensão atual não fosse a nota, redigida de próprio punho, em que a presidente expunha suas reservas quanto à compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.

Fica assim ambígua a situação política de Dilma Rousseff. Se o escândalo pode fortalecer-lhe a autonomia em relação à camisa de força petista, não se sabe que flancos expõe sobre sua conduta ou, muito menos, a de ministros que ainda nem chegou a nomear.

Em suma, o velho mito da faxineira tinha sentido quando se tratava de eliminar sujeiras localizadas. O quadro muda quando, para fazer a limpeza, seria necessário trocar as próprias fundações do chão em que se pisa.


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