Folha de S. Paulo


Editorial: Desmatamento detido

O governo Dilma Rousseff (PT) tem especial motivo para comemorar a queda na taxa anual de desmatamento na Amazônia em 2013/2014. A expectativa de novo aumento, como no período anterior, foi afastada pelos números.

Não que eles sejam diminutos. Uma área de 4.848 km² de matas destruídas em 12 meses, como a recém-apurada pelo sistema Prodes, equivale a mais de três municípios como São Paulo.

Isso representa, no entanto, pouco mais de um milésimo do bioma Amazônia, em sua maior parte constituído de floresta. É também a segunda menor cifra anual de desmatamento, ficando atrás apenas da marca de 2012 (4.571 km²).

Dilma e sua ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lograram obter em seu quadriênio a menor média anual de devastação.

Não é feito pequeno. Consolida-se, ao que tudo indica, a tendência de redução que ficara sob dúvida com o salto de 29% no ano passado, para 5.891 km². Qualquer uma das três últimas taxas é baixa se comparada ao ápice alcançado em 2004, de 27.772 km².

Perante esse bom desempenho, mostra-se ainda mais esdrúxulo o comportamento do governo no período eleitoral ao adiar a divulgação dos dados do segundo sistema de monitoramento por satélite do desmate, o chamado Deter.

Criado para gerar informações que auxiliem a autuação de derrubadas ilegais pelo Ibama, o Deter sacrifica algo da precisão em favor da agilidade. Seus relatórios eram divulgados mensalmente de maio a outubro, mas sua publicação foi suspensa em agosto e setembro.

Não por coincidência, nesse período a destruição deu sinais de recrudescimento. Como revelou esta Folha, naquele bimestre o desmatamento na Amazônia progrediu 122% na comparação com os mesmos dois meses de 2013.

Por muito que se explicasse não ser o Deter apropriado para totalizar a área desmatada (função do Prodes), a informação carregava potencial de dano eleitoral para Dilma Rousseff. Cabe rememorar que sua candidatura sofria então assédio da ex-senadora Marina Silva, ligada à causa ambiental.

A presidente reelegeu-se, porém, e agora exibe o bom resultado do Prodes. Não há motivo para manter em sigilo os dados do Deter –a não ser que, de lá para cá, a retomada da devastação esteja de fato a assumir feições preocupantes.


Endereço da página: