Folha de S. Paulo


Ricardo Balthazar: Dois Joaquins

SÃO PAULO - Há pelo menos duas teorias ganhando força na praça desde que o economista Joaquim Levy foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para chefiar o Ministério da Fazenda em seu segundo mandato.

A teoria mais generosa diz que o novo ministro terá autonomia para arrumar as contas do governo e fazer tudo que julgar necessário para recuperar a economia, sem medo de ser acusado de trair os compromissos assumidos pela presidente quando estava em campanha pela reeleição.

A outra tese é que Levy assumirá a função de mãos atadas. Sem amigos no PT, e com Nelson Barbosa atuando como contrapeso no Ministério do Planejamento, ele teria dificuldades para fazer mudanças sem pôr em risco a própria sobrevivência no cargo.

Será preciso esperar um pouco para saber qual dos dois Joaquins vai prevalecer. Muita gente viu na escolha de Levy a demonstração de que Dilma está convencida da necessidade de promover ajustes dolorosos na economia. Mas ninguém sabe por quanto tempo suas convicções resistirão diante da insatisfação crescente que os ajustes deverão causar.

O futuro do novo ministro também dependerá de sua habilidade política. Integrante da equipe formada no início do governo Lula pelo ex-ministro Antonio Palocci, Levy saiu de Brasília junto com ele e sempre sonhou em voltar à cidade para ocupar a cadeira do antigo chefe.

Após deixar o governo, ele passou uma temporada de nove meses no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington. Nomeado para uma das vice-presidências da instituição, Levy se aborreceu com a burocracia e agarrou a primeira chance que teve de retornar ao Brasil.

Chamado pelo então governador Sérgio Cabral para ser o secretário da Fazenda do Rio, ele achava que poderia ser lembrado depois como opção para o ministério se fizesse um bom trabalho. Lula, Palocci e até o tucano Aécio Neves pediram que ele aceitasse o convite. Quase oito anos depois, Levy chegou aonde queria.


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