Folha de S. Paulo


Editorial: Inaceitável rotina

A população de São Paulo tem sido obrigada a conviver com inaceitável rotina na área da segurança pública. Pelo 17º mês consecutivo, registra-se, tanto no Estado como na capital, um crescimento expressivo no número de roubos.

Em outubro, foram 26.013 crimes dessa natureza (praticados com violência ou mediante ameaça) em todo o território estadual, um aumento de 14% em relação ao montante verificado no mesmo período do ano passado. Se considerada apenas a cidade de São Paulo, as ocorrências passaram de 11.368 para 13.596, ou 19,6% a mais.

Taxas como essa deveriam suscitar suficiente preocupação logo em sua primeira ocorrência. Repetindo-se desde junho de 2013, vão muito além disso; demonstram o quanto as autoridades encarregadas de garantir a segurança dos paulistas têm fracassado em uma de suas atribuições básicas.

Mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, parecem pensar de outro modo. Sempre há, para eles, como relativizar as estatísticas negativas.

Primeiro, tratava-se de chamar a atenção para o fim da escalada de homicídios intencionais, crise ainda mais grave que afligiu a população em meados de 2012.

Nesse aspecto, reconheça-se que São Paulo ostenta, desde o final da década passada, um dos melhores indicadores do Brasil (hoje são 10,11 homicídios por 100 mil habitantes). Atualmente, na contramão da alta de roubos, os assassinatos têm diminuído de forma constante, e o total acumulado até outubro é o segundo menor da série histórica, iniciada em 2001.

O governo logo se deu conta, todavia, de que não adiantaria insistir nesse espantalho contra a elevação persistente dos crimes patrimoniais. Assim, a administração tucana houve por bem criticar a legislação penal do país –estratégia pouco eficaz, pois os roubos se tornaram mais frequentes sem que tivesse mudado a legislação.

Depois, a gestão Alckmin sustentou que, devido ao registro eletrônico, eram as notificações, e não as ocorrências, que cresciam. A tese não poderia vingar, já que o novo modelo foi implantado após o início da disparada de roubos.

Na fase mais recente, o governo estadual passou a adotar enunciados capciosos, apegando-se à redução do ritmo de alta, como se a população pudesse se contentar com menos do que a diminuição do número total desse crime.

Não pode. Os paulistas querem viver em segurança, e para isso nada contribui as reiteradas evasivas do governo estadual.


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