Folha de S. Paulo


Editorial: O tom da paz na Colômbia

A negociação de paz na Colômbia sofreu grave abalo nesta semana. Com o sequestro do general Rubén Alzate por membros das Farc (Forças Revolucionárias Armadas da Colômbia) no domingo (16), o presidente Juan Manuel Santos ordenou a suspensão dos diálogos que, há dois anos, tentam pôr fim ao conflito com as narcoguerrilhas.

Essa ação criminosa não poderia ter ocorrido em momento menos oportuno. Na segunda-feira (17), uma delegação do governo colombiano viajaria a Cuba para iniciar mais uma rodada de discussões com o agrupamento.

O episódio também deixa o presidente da Colômbia em posição desconfortável. Reeleito em maio com vantagem pequena, Santos centrou sua campanha na manutenção das tratativas com as Farc.

A vitória aumentou a pressão para que seu governo alcance um acordo definitivo. Tentará realizar isso, ao que parece, sem ceder. O presidente condicionou a retomada das conversas à soltura do general. Noticia-se que isso ocorrerá nos próximos dias –é um alívio.

Embora a situação represente um revés evidente, não se pode ignorar o muito que já se avançou. Nenhuma negociação anterior foi tão longe quanto a atual.

Houve acertos consideráveis quanto a reforma agrária, participação política de membros das Farc e solução para o tráfico de drogas. Ainda tomariam lugar na mesa, porém, os temas mais sensíveis –abandono das armas e indenização das vítimas–, afora questões práticas para efetivar o pacto.

Além disso, essas tratativas se diferenciam das pregressas pelo fato de não terem implicado um cessar-fogo. Santos temia que, a exemplo do que se deu no início dos anos 2000, as Farc se valessem da pausa para recompor forças.

Se faz sentido insistir nas ações militares para manter a guerrilha sufocada e enfraquecida, nem por isso a estratégia está livre de efeitos colaterais. Estando em curso uma guerra, a captura do general Alzate, pela lógica fria dos rebeldes, não violaria as regras do jogo.

Talvez seja verdade de um ponto de vista formal, mas as próprias Farc perceberam que, dessa vez, meteram os pés pelas mãos. Após o sequestro, abandonaram o cinismo habitual e manifestaram disposição de encontrar "rápida, tranquila e justa solução para o problema".

A mudança de tom, se vier para ficar, será bem-vinda, e a libertação do general poderá ser importante sinal. Como declarou o presidente Juan Manuel Santos, "a paz não virá com ações violentas".


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