Folha de S. Paulo


Editorial: Cooperação global

Depois do bem-sucedido esforço de coordenação feito em 2008 a fim de evitar que o mundo caísse numa recessão ainda mais grave, a rotina do encontro anual do G20 se tornou tediosa.

Declarações de princípios e promessas de cooperação entre as principais economias do planeta continuaram, mas cresceu o ceticismo quanto aos resultados que podem ser atingidos sem um arcabouço formal que obrigue os países a cumprir o que prometem.

As decepções com o ritmo de crescimento global reforçaram o desalento. A Europa, por exemplo, ainda não recuperou o nível prévio de renda e permanece muito aquém das metas de emprego. Entre os emergentes, a euforia da década passada deu lugar ao realismo, que destaca as imensas deficiências institucionais existentes.

Há, ainda assim, razões para uma visão mais construtiva. Para começar, a expansão mundial ficará em torno de 3% em 2014, próxima à média histórica. A China e outros emergentes, inclusive o Brasil, desaceleram, mas não se pode considerar desprezível que o grupo cresça quase 5% ao ano.

Assim, não é necessariamente promessa vazia o compromisso de adotar medidas para injetar, até 2018, US$ 2 trilhões adicionais na economia mundial –o que equivale a um acréscimo de 0,5 ponto percentual por ano ao crescimento projetado dos membros do G20.

Há uma coletânea de iniciativas nesse sentido e, mesmo que faltem (como sempre) mecanismos de pressão, cresce a disposição para maior transparência e cobrança mútua entre as nações.

Não seria o caso de esperar uma governança global, mas a mera discussão e a busca de uma visão comum podem reduzir a desconexão entre as políticas econômicas.

Talvez o resultado mais palpável do encontro tenha sido a formalização de metas para reduzir a evasão de impostos e combater a corrupção. Houve acordo entre o G20 e países da OCDE, que juntos representam 90% do PIB mundial, para a troca de informações e harmonização de regras tributárias.

O objetivo é manter a arrecadação onde a atividade econômica é gerada e evitar que empresas e indivíduos de alta riqueza se aproveitem de buracos no sistema global para pagar menos impostos.

Uma medida concreta é a exigência de que cada país mantenha registro dos donos de empresas de fachada, um dos grandes canais para evasão de divisas e corrupção.

São avanços palpáveis, ainda que incrementais, na cooperação global. Não é pouco quando se considera o surgimento de novos atores de peso na economia mundial.

Ainda assim, é preciso avançar na reforma da estrutura multilateral erguida pelas potências ocidentais para dar mais peso aos emergentes. Esse é o grande nó a desatar para que não haja retrocesso.


Endereço da página: