Folha de S. Paulo


Editorial: Promessas e juros

Passada a eleição, o governo se dedica agora à difícil tarefa de reverter a queda de confiança que paralisou os negócios neste ano. Pretende, assim, ganhar algum tempo para reformar a política econômica.

O desafio não será pequeno, a começar da nomeação de um ministro da Fazenda com perfil equilibrado entre o técnico e o político, com qualidade intelectual e prestígio profissional suficientes para evitar a impressão de que atuará como mero executor das vontades da presidente Dilma Rousseff (PT).

Ainda não se sabe que influência terão nessa escolha o ex-presidente Lula e a cúpula do PT, assim como permanece incerta a real disposição de Dilma para implementar as mudanças necessárias. Mesmo assim, delineiam-se alguns contornos das ações mais imediatas.

O governo, por exemplo, passara a admitir a alta dos juros neste ano, como forma de compensar as más notícias esperadas nas contas públicas e as pressões inflacionárias provocadas, entre outros fatores, pelo dólar mais caro.

A última projeção do Banco Central indicava inflação de 6,3% em dezembro, mas com o dólar a R$ 2,25. A moeda americana, contudo, está em R$ 2,47, e analistas privados consideram que a alta de preços poderá ficar perigosamente próxima do teto da meta, 6,5%.

O Copom (Comitê de Política Monetária), ainda assim, surpreendeu ao elevar a taxa básica de juros já na reunião de ontem (29), passando-a de 11% para 11,25%.

Que o país esteja novamente em meio a um ciclo de aperto monetário para combater a inflação, ao mesmo tempo em que flerta com a recessão, é prova do atoleiro em que se afundou a política econômica nos últimos anos.

Além de indicações de maior autonomia do BC na gestão dos juros, o governo precisará esclarecer qual será a trajetória das contas públicas em 2015. Em particular, quais serão as fontes de recursos para elevar o superavit primário (diferença entre receitas e despesas antes do pagamento de juros).

São pontos decisivos, já que a arrecadação patina e o Congresso decerto procurará impedir aumentos de impostos. Depois do péssimo resultado esperado para este ano –o objetivo é economizar R$ 99 bilhões, mas, até agosto, só 10% disso havia sido poupado–, cortes de despesas são inevitáveis.

Por fim, o governo deve normalizar os preços dos combustíveis. O reajuste é importante não só para começar a recompor o caixa da Petrobras mas também para passar um sinal concreto de que o intervencionismo diminuirá.

Em outras palavras, se, como se espera, Dilma Rousseff quiser recolocar o país nos trilhos, precisará adotar boa parte das medidas que, durante sua campanha presidencial, prometeu evitar.


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