Folha de S. Paulo


Editorial: O labirinto do México

Em uma situação incompatível com o regime democrático do país, a população do México procura há um mês respostas para o sumiço de 43 estudantes de magistério. Eles desapareceram no dia 26 de setembro na cidade de Iguala, no sudoeste do país, quando se dirigiam a um protesto contra a redução de verbas para sua escola.

Segundo as investigações, os jovens foram raptados pela polícia a mando do prefeito local, irritado com as contínuas manifestações do grupo. Na ação, três estudantes e três transeuntes morreram.

Após o sequestro, o grupo teria sido entregue a uma quadrilha de narcotraficantes ligada ao prefeito Jose Luis Abarca, hoje foragido.

As buscas localizaram na região ao menos 20 valas clandestinas que escondiam ao todo 30 corpos –de acordo com exames iniciais, não eram dos alunos desaparecidos.

A ausência de esclarecimentos provocou uma onda de comoção e protestos em diversas cidades do país, que registram episódios de vandalismo, incluindo incêndio de edifícios públicos.

O sumiço dos jovens reacendeu, entre os mexicanos, o temor de que o país recaia no mesmo tipo de violência que assolou o país de 2006 a 2012. Uma sucessão de chacinas marcou o período, no qual cadáveres eram expostos à população com o intuito de ampliar o medo.

Ainda que não existisse esse histórico, todavia, a reação das autoridades já seria excessivamente lenta. Incapaz de oferecer respostas, o governador de Guerrero, Ángel Aguirre, licenciou-se do cargo.

Sua saída abre uma oportunidade para que o presidente Enrique Peña Nieto seja mais incisivo. Há quase dois anos no posto, tem promovido elogiadas reformas modernizadoras em áreas como energia, tributos e política, mas negligencia o combate ao narcotráfico.

Governando uma população de 112 milhões e a segunda maior economia da América Latina, Peña Nieto impulsiona mudanças estruturais para atrair investimentos e gerar crescimento consistente.

O sumiço dos alunos, o provável envolvimento do prefeito prófugo, os corpos sem identificação e a ação criminosa da polícia, contudo, mostram que o México está longe de superar as mazelas provocadas pelo crime organizado.


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