Folha de S. Paulo


Editorial: Mudança de ritmo global

O mercado financeiro mundial entrou de novo em um período de turbulência. Depois de meses de relativa calmaria, as Bolsas de Valores registraram quedas abruptas em poucos dias, sobretudo nos países mais desenvolvidos.

Enquanto isso, as taxas de juros de longo prazo atingiram o mínimo histórico na Europa, movimento associado à expectativa de estagnação. Por sua vez, os preços das matérias-primas, em particular do petróleo, entraram em queda livre, o que desencadeou temores de falta de demanda global.

É uma mudança e tanto em relação ao quadro vigente há menos de dois meses, quando os investidores eram quase unânimes na avaliação de que a conjuntura econômica melhoraria a ponto de os juros dos EUA subirem no primeiro semestre de 2015.

As outras regiões, por sua vez, pareciam ao menos capazes de lidar com o custo mais elevado do dinheiro americano.

Agora, o medo é de recaída mundial na recessão, ou em um período de letargia prolongada. Um dos gatilhos para o mau humor veio da Europa, que tem sofrido revisões na expectativa de crescimento. O FMI diminuiu de 1,1% para 0,8% sua previsão em relação ao avanço do PIB da zona do euro.

Parece pouco, sem dúvida, para disparar tamanha mudança de perspectiva –até porque os países europeus caminham a passos lentos há algum tempo.

Ocorre que, nas últimas semanas, surgiu um complicador: o risco de que o continente entre em um período de deflação. Isso seria danoso para as economias com grandes dívidas –quando os preços caem, o valor das obrigações sobe em relação a outros bens e serviços, dificultando o pagamento.

A inflação em 12 meses até setembro ficou em 0,3%, e há o temor de que o Banco Central Europeu não reaja a contento. Não há unanimidade no banco, por exemplo, para um programa de injeção de dinheiro no mercado, como tem feito seu congênere americano.

Reaparecem, além disso, fissuras entre as autoridades europeias na gestão dos Orçamentos nacionais. Enquanto a Alemanha e outros que já apertaram seus cintos demandam austeridade, França e Itália querem mais tempo.

É justamente essa falta de clareza quanto aos próximos passos dos líderes da Europa o que mais preocupa os mercados.

Sem uma reação que restaure algum dinamismo na Europa, o risco é que a nova mediocridade –termo usado pelo FMI para designar o ritmo de crescimento global– se fixe como algo estrutural.


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