Folha de S. Paulo


Editorial: Empatados

Aécio Neves (PSDB) saiu na frente no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto. Menos pelo resultado das pesquisas de intenção de voto, que registram pequena vantagem para o senador, e mais pelos apoios que granjeou nestes primeiros dias de campanha.

O resultado do Datafolha, é claro, dá ao tucano um novo ânimo para enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT). Tendo alcançado 51% das preferências no levantamento finalizado ontem (9), Aécio aparece numericamente à frente da petista (49%).

É pouco, sem dúvida, pois se trata de situação de empate técnico. É muito, porém, para quem terminou o dia 5 quase 8,5 milhões de votos atrás da adversária e calculava em ao menos 17 milhões o contingente de eleitores que precisaria conquistar nesta nova fase do pleito (na mesma conta, Dilma precisaria de cerca de 9 milhões).

Intenções são voláteis, contudo, e a trajetória de Marina Silva (PSB) está aí para demonstrá-lo. Tornam-se mais relevantes, por isso mesmo –e sobretudo numa competição tão parelha–, as alianças seladas em acréscimo às que vigoraram no primeiro turno.

Não se trata propriamente de buscar a transferência de sufrágios. Mesmo que Marina tome alguma decisão e a explicite, seus pouco mais de 22 milhões de votos não cairão de forma automática na urna de quem ela indicar.

Acordos são importantes por garantir ao candidato uma estrutura com a qual não se contava. Quanto a isso, Dilma não avançou quase nada, mas a máquina federal joga a seu favor. Aécio, por sua vez, recebeu respaldos estratégicos.

O PSB, por exemplo, partido que hospeda Marina, fechou com o tucano e pode ser decisivo em Pernambuco, onde a ex-ministra do Meio Ambiente teve 48% do eleitorado; Aécio não foi além de 6%.

Entre os nanicos que concorreram à Presidência, Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) se inclinaram pelo tucano; juntos, tiveram 1,4 milhão de simpatizantes. Luciana Genro (PSOL), que ficou em quarto lugar, com 1,6 milhão de eleitores, limitou-se a desaconselhar o voto no PSDB.

Quanto mais equilibrada estiver a disputa em sua reta final, porém, menos provável será que se mantenham distantes aqueles que até aqui não se aproximaram de nenhum candidato.

Com o eleitorado dividido em duas partes iguais, o Brasil corre o risco de vivenciar cenas lamentáveis de agressividade ideológica e campanhas destrutivas –ou de saudável politização com "P" maiúsculo, como se pensava nem mais existir por aqui.

O rumo que o país tomará depende, em larga medida, do comportamento de Aécio Neves e Dilma Rousseff a partir de agora.


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