Folha de S. Paulo


Francisco Balestrin: Hospital é coisa séria

Em todo o mundo, os hospitais são instituições respeitadas e até reverenciadas pelo que representam para o bem mais precioso de uma pessoa, que é a saúde. Suas atribuições vão além da prestação de cuidados diferenciados, do ponto de vista da assistência médica curativa e de reabilitação, para serem reconhecidos pela inestimável colaboração na prevenção de doenças, no ensino e na investigação científica.

Não são raros os países que se tornaram referências internacionais pelas suas especializações médicas, conhecimentos científicos e protocolos assistenciais, originados em suas instituições hospitalares.

No Brasil não é diferente, embora, por aqui, os hospitais já tenham sido comparados a botecos –como ocorreu recentemente em uma reportagem publicada por uma revista de grande circulação nacional. Nada contra botecos. Mas a comparação é, no mínimo, jocosa, e de uma visão totalmente distorcida e até maledicente.

Os hospitais privados brasileiros, a exemplo dos grandes centros internacionais, são instituições de altíssima complexidade, sob todos os aspectos que possam ser analisados –desde a sua estrutura física e arquitetônica, como de gestão, capacitações, procedimentos, logística, comprometimento com a saúde, a qualidade no tratamento e o bem estar de seus pacientes.

A governança hospitalar supera a de qualquer outra atividade econômica, exigindo um esforço intelectual, financeiro e tecnológico acima do padrão, para gerir uma realidade que tende a ser cada vez mais complexa. No Brasil, este cenário ganhou novos contornos, com o aumento da renda, que ampliou o acesso aos serviços de saúde, com os significativos ingressos de novos usuários das operadoras, e com o envelhecimento e a mudança do perfil epidemiológico da população.

Esse desafio exige dos gestores investimento constante na ampliação das instalações, adaptação dos serviços, incluindo estrutura física e capacitação das equipes, bem como aquisição de novas tecnologias, com vistas a atender as demandas atuais e se preparar para as exigências futuras. Isso tudo sem abrir mão do cuidado e da qualidade da assistência, no momento em que, não raramente, pacientes e familiares estão bastante fragilizados.

É fato que há muito para avançar. O setor encontra desafios cada vez maiores, enquanto avança no seu modelo de governança, cada vez mais estruturado no sentido de promover a melhoria contínua do nível de assistência e qualidade clínica do cuidado ao paciente, em um ambiente de boas práticas e de excelência.

A governança clínica dentro dos hospitais tem caráter multifuncional e exige a participação de todo o corpo clínico e de suporte das instituições, dada sua altíssima complexidade. Afinal, envolve pilares tão variados quanto distintos, que vão desde a auditoria clínica participativa, a efetividade da intervenção clínica e a gestão de riscos de eventos adversos, até a educação e treinamento dos profissionais, desenvolvimento da pesquisa, transparência de todos os processos e relações interpessoais, e o uso de tecnologia da informação.

O setor hospitalar também está empenhado na busca permanente pela melhoria da assistência em saúde como um todo, em atendimento a uma das maiores expectativas da população.

Por isso, a partir de um trabalho executado por uma consultoria internacional, que compreendeu entrevistas com importantes personalidades brasileiras, estudo da nossa realidade e análises comparativas com os maiores centros mundiais, reunimos uma série de propostas em um documento inédito no Brasil. A finalidade é contribuir para o fortalecimento e a integração de toda a cadeia da saúde, mantendo os hospitais à frente do importante desafio que o País tem para expandir e melhorar a assistência oferecida à população nos próximos anos.

FRANCISCO BALESTRIN, 58, presidente do Conselho de Administração da Anahp - Associação Nacional de Hospitais Privados

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