Folha de S. Paulo


Bernardo Mello Franco: A corrida de Aécio

Tom Jobim, o compositor, dizia que o Brasil não é para principiantes. Aécio Neves, o candidato, disse ontem que o Brasil não é para amadores. A intenção do tucano foi criticar a inexperiência de Marina Silva. Mas a frase também serviria para retratar o clima de espanto que se instalou em sua campanha com a entrada da ex-senadora na corrida presidencial.

Há apenas duas semanas, Aécio parecia ter chances razoáveis de subir a rampa do Planalto. O terceiro colocado, Eduardo Campos, não oferecia perigo. A primeira, Dilma Rousseff, não conseguia melhorar a avaliação do governo. Na simulação de segundo turno do Datafolha, ela e Aécio apareciam em empate técnico.

Este cenário desapareceu com o acidente que matou Campos. O vento da mudança agora sopra a favor de Marina. Aécio precisa conter a sangria de votos, evitar a fuga de aliados e provar a eleitores, financiadores e aliados de ocasião que ainda está no páreo. São muitas tarefas para pouco tempo: faltam apenas 38 dias para o primeiro turno da eleição.

O senador não tem alternativa a não ser tentar desconstruir a ex-senadora. É uma operação arriscada, porque o eleitor que simpatiza com ela pode se voltar contra ele. Foi o que aconteceu com José Serra, que só conseguiu aumentar sua rejeição ao confrontar Dilma em 2010. A imagem frágil de Marina e a memória da tragédia que abateu sua chapa tornam o desafio de Aécio ainda maior.

A situação do mineiro é parecida com a de um piloto de Fórmula-1 que vai bem nos treinos, mas sofre um problema inesperado e começa a corrida quase sem chances de vitória. Em 1988, Ayrton Senna deixou o motor morrer na largada do GP do Japão, que decidiria o título, e caiu do 1º para o 14º lugar. Numa atuação épica, voou sobre as zebras, foi para cima dos adversários e ganhou a prova. Dois detalhes atrapalham a comparação. Aécio não demonstra o arrojo de Senna, e o PSDB, assim como a McLaren, não é mais o mesmo.


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