Folha de S. Paulo


Ricardo Balthazar: Guinada populista

SÃO PAULO - Na convenção partidária que confirmou sua candidatura presidencial, em junho, o ex-governador Eduardo Campos não pronunciou uma palavra sobre o que fará com a saúde pública se for eleito. Em seu discurso, disse apenas que haverá "missões" e "grandes tarefas" a executar nessa área.

De uns dias para cá, o presidenciável transformou o tema em bandeira de campanha e embrulhou um generoso pacote de promessas. Prometeu multiplicar os gastos do governo com a saúde, disse que criará um plano de carreira para os médicos do serviço público e acenou com a construção de uma centena de hospitais.

Essa foi a parte fácil. O que Campos ainda não explicou é onde achará dinheiro para financiar essas e tantas outras iniciativas que lançou após a convenção, como a proposta de conceder passe livre em ônibus e trens a todos os estudantes do país.

Nesta segunda-feira (21), o candidato do PSB sugeriu que os recursos irão se materializar depois que ele assumir o governo, porque haverá menos despesas com juros da dívida pública, repasses para distribuidoras de energia elétrica, subsídios a grandes grupos econômicos, etc.

Com diferenças de estilo, é mais ou menos o que os políticos sempre dizem. Estacionado em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, Campos acha que propostas de apelo popular ajudarão a chamar atenção e superar a fragilidade da estrutura que seu partido tem para a campanha.

A guinada populista surpreende no seu caso porque até outro dia ele desfilava nos salões vendendo a banqueiros e empresários a estampa de um político responsável, comprometido com a estabilidade econômica e o equilíbrio das contas públicas.

A mudança lança dúvidas sobre a sinceridade dos compromissos que Campos assumiu com essas pessoas na largada da campanha e pode agravar as dificuldades que ele enfrenta, esfriando ainda mais o entusiasmo que grandes financiadores pareciam ter por sua candidatura.


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