Folha de S. Paulo


Editorial: Quatro anos para a paz

Em votação acirrada, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi reeleito neste domingo (15) para um mandato de quatro anos. O principal significado de sua vitória é a sobrevida das arrastadas negociações de paz com guerrilhas como as Farc, o principal tema desta campanha.

Com 50% dos votos –19 pontos percentuais a menos do que no segundo turno de 2010–, Santos superou o ex-senador Óscar Ivan Zuluaga (45%), que dependia do carisma do ex-presidente Álvaro Uribe e prometia interromper o diálogo com grupos guerrilheiros.

Santos, por sua vez, explicitamente vinculou sua votação à paz. Assim, o resultado aumenta a pressão para que ele obtenha um acordo definitivo com as guerrilhas. As conversas com as Farc já duram 18 meses sem consenso sobre os pontos mais cruciais, como as questões legais e a deposição das armas.

O presidente colombiano também terá dificuldades no Congresso eleito em março. Sua agremiação, o Partido de la U, detém 21 dos 102 assentos no Senado, e sua coalizão soma apenas 47 senadores.

Ainda que a eleição tenha se transformado numa espécie de referendo sobre as negociações de paz, Santos terá de lidar com outros desafios tão ou mais importantes para o país.
O principal talvez seja equilibrar melhor o bom desempenho econômico da Colômbia, que deve crescer acima de 4% neste ano e mantém a inflação abaixo dos 3% ao ano. Nesse ritmo, o país de 48 milhões de habitantes já em 2015 ultrapassará a Argentina como segundo PIB da América do Sul.

Os fortes protestos do setor agrário mostram que relevantes segmentos da economia não aproveitam os ventos favoráveis que sopram em outras áreas, principalmente em construção e mineração.

Para as relações com o Brasil, a vitória de Santos representa a continuidade da colaboração dos dois Estados para mediar a crise na Venezuela, o que seria muito mais difícil caso Zuluaga fosse eleito.

Por outro lado, o Brasil ainda tem um comércio irregular e longe do potencial com seu vizinho mais populoso. As exportações à Colômbia somaram US$ 2,5 bilhões no ano passado, enquanto as vendas à Argentina chegaram a US$ 19,6 bilhões no mesmo período.

Apesar do desfecho ainda incerto das negociações e dos desequilíbrios econômicos, a Colômbia avançou muito desde os anos 1990, quando o narcotráfico e a guerrilha representavam sérias ameaças ao funcionamento do Estado. Cabe a Santos continuar esse processo, sem negligenciar os vários fronts.


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