Folha de S. Paulo


Editorial: Colômbia imprevisível

Há quatro anos, Juan Manuel Santos se tornou o presidente mais bem votado da história da Colômbia, apoiado por 69% dos eleitores no segundo turno. Hoje candidato à reeleição, enfrenta disputa acirrada e imprevisível.

As duas circunstâncias –sua caminhada tranquila e suas dificuldades presentes– estão relacionadas à atuação de Álvaro Uribe. Se o popular ex-presidente (2002-2010) apadrinhou Santos e o conduziu ao poder, ele agora faz de tudo para derrotar o ex-aliado.

Legalmente impedido de concorrer à Presidência por já ter exercido dois mandatos, Uribe é o principal cabo eleitoral de Óscar Iván Zuluaga, seu ex-ministro da Fazenda e fiel seguidor. O candidato oposicionista disputará o primeiro turno neste domingo (25) em situação de empate técnico com Santos.

O debate se concentra sobretudo na divergência a respeito das negociações de paz com a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) –o conflito armado dura quase meio século.

Grande parte da popularidade de Uribe decorre de seu rigor nesse tema. Atualmente acuadas, as Farc controlavam, no início dos anos 2000, porção expressiva do território colombiano e, com o financiamento do narcotráfico, tinham poder operacional para realizar sequestros, assassinatos e atentados terroristas.

De 2006 a 2009, coube ao hoje presidente Santos, então à frente do Ministério da Defesa, papel de destaque na implementação da política linha-dura.

No início de seu mandato, Santos deu sinais de que abandonaria tal orientação quando buscou melhorar as relações com Hugo Chávez (morto em 2013). Para Álvaro Uribe, o venezuelano era um ditador aliado das Farc.

Pouco depois, criador e criatura romperam. Santos iniciou negociações de paz com a guerrilha; Uribe viu na iniciativa uma ameaça às conquistas de seu governo, obtidas "manu militari".

Em entrevista a esta Folha, Santos defendeu o processo que começou. Seu adversário, Zuluaga, declarou, também a este jornal, que suspenderá as tratativas em andamento desde novembro de 2012.

O provável segundo turno, no dia 15 de junho, dará ocasião para que esclareçam pontos obscuros de seus programas e ampliem os temas em debate. A Colômbia, afinal, não é refém das Farc.


Endereço da página: