Folha de S. Paulo


Editorial: De Minas a Pequim

Vale começar por um exemplo hipotético. Muitos petistas continuam aferrados à tese de que alguns –se não todos– condenados pelo mensalão não cometeram os crimes de que foram acusados.

Seria interessante imaginar o que aconteceria se recorressem à Justiça para expurgar da internet qualquer referência a seus nomes que os ligasse às palavras "quadrilha", "corrupto" ou "ladrão".

Não faltariam protestos contra essa atitude –e seriam corretos. Mais uma vez, identificar-se-ia o infame vezo da esquerda autoritária de esmagar a liberdade dos que não se submetem a suas opiniões.

Coube, na verdade, a um tucano –o pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves– o papel ridículo de lançar-se numa aventura judicial desse gênero.

O senador de Minas Gerais requereu ao Judiciário paulista que sejam removidos das redes sociais e dos sites da busca da internet os links e perfis que ligam seu nome a temas como uso de entorpecentes e desvio de verbas públicas.

Vendo um de seus pleitos ser derrotado, Aécio recorreu ao Tribunal de Justiça. A desembargadora que analisou o caso recusou, por ora, o pedido de liminar, que visava a censurar Google, Yahoo e Bing, da Microsoft. Falta analisar o mérito do processo.

Seu único mérito, se é que cabe o termo, terá sido o de apontar o despreparo do candidato ou de seus assessores para a convivência democrática contemporânea.

Acusações falsas e injuriosas, vindas de quem quer que seja, podem ser punidas. Mas justificar a censura prévia a sites de busca alegando que facilitariam o acesso a conteúdos caluniosos é procedimento que não se coaduna com o discurso democrático do PSDB.

Combina, isto sim, com a prática vigente em Pequim, em Havana ou em Teerã. Não se conhecendo os laços de amizade e de influência entre o tucano e as autoridades residentes nessas paragens, o único extremismo de que ele pode ser acusado talvez seja o da tolice.

Segundo uma das empresas miradas pelo senador, é impossível bloquear buscas sem prejudicar outras pesquisas com seu nome.

Sendo assim, o modelo aecista terminaria por barrar, por exemplo, discursos dele próprio recomendando políticas para coibir o uso de drogas por adolescentes. Ou a notícia de que o Ministério Público desistiu de uma ação por improbidade contra o ex-governador de Minas Gerais.

Com seu gesto desmesurado, Aécio Neves terá de preocupar-se, agora, com novas buscas: aquelas que associam seu nome a "censura" e "regime ditatorial".


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