Folha de S. Paulo


Gustavo Patu: Subdesenvolvimentismo

BRASÍLIA - Quem comparar o desempenho de Brasil e Argentina por um prazo mais longo –de 30 anos, por exemplo– verá que, na média anual, os dois países têm crescimento econômico quase idêntico, nem muito ruim nem muito bom.

Mas médias são enganosas e escondem as diferenças de temperamento entre os dois vizinhos. Os argentinos, nessas três décadas, viveram uma montanha-russa em que picos de prosperidade se alternaram com colapsos e tragédias dignos das grandes depressões. Os brasileiros experimentaram oscilações bem mais suaves e distanciadas; a euforia no Plano Cruzado e a recessão do Plano Collor ficaram para trás.

A Argentina embarcou muito mais radicalmente tanto na onda neoliberal dos anos 90 quanto no novo desenvolvimentismo sul-americano deste século; o Brasil seguiu uma e outro com menos fidelidade e mais pragmatismo, no estilo nacionalmente consagrado pelo PMDB, talvez a verdadeira ideologia do país.

Dilma Rousseff, conscientemente ou não, aparenta ter atingido a quintessência da previsibilidade. A produção e a renda se movem lentamente, a taxas muito parecidas a cada ano, sem turbulências, com desemprego baixo, aparato de seguridade social em expansão e queda vegetativa da pobreza e da miséria.

Esquecidas as promessas de grandeza da primeira campanha eleitoral da presidente, resta ao governo brasileiro e a seus pensadores teorizar sobre as virtudes da temperança e do amparo estatal, ainda mais na comparação com sacrifícios pouco recompensadores do passado. Os índices de popularidade de Dilma sugerem que não é pequeno o apelo dessa mensagem no eleitorado.

A dúvida é por quanto tempo mais a calmaria poderá ser mantida. A finança global e os desequilíbrios domésticos sugerem que um ajuste terá de ser feito em 2015, no primeiro ano do próximo governo. Mas o mercado muitas vezes antecipa a conta.


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