Folha de S. Paulo


Roberto Berlinck: Ciência para políticas públicas

Dois mil e treze foi o melhor ano para a humanidade, segundo o blogueiro Zack Beauchamp ("The Breakthrough Institute").

Nunca foi tão pequeno o número de mortes de crianças com menos de cinco anos de idade. A expectativa de vida média no planeta saltou de 47 anos no início dos anos 1950 para 70 anos em 2011.

O número de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza atingiu um mínimo. As guerras se tornaram menos frequentes e mortíferas. A violência, em geral, decresceu significativamente. Diferentes formas de discriminação estão cada vez menos presentes.

Beauchamp atribui tais avanços em parte ao desenvolvimento científico e tecnológico, bem como à inovação de políticas públicas.

Com o advento das democracias, da melhoria da educação, do desenvolvimento econômico e social, o reconhecimento que a ciência pode ser uma poderosa aliada na proposição de políticas públicas ganha cada vez mais importância.

Em diversos países, chefes de Estado adotaram a recomendação científica ("scientific advice") como estratégia para obter suporte desse conhecimento e buscar alternativas na resolução de questões complexas das nações que comandam.

Embora tais iniciativas pareçam de efetividade óbvia, nem sempre o são. Enquanto que a recomendação científica busca fornecer subsídios para a abordagem de problemas de acordo com princípios científicos, necessidades políticas por vezes predominam e acabam por deixar de lado a adoção de possíveis soluções que se fundamentam em pesquisa e conhecimento.

Além disso, os princípios de responsabilidade moral de funcionamento da sociedade como um todo devem ser considerados como mais importantes sobre os da ciência, levantando questionamentos sobre determinadas formas do desenvolvimento científico e suas aplicações.

O fomento à ciência e à inovação tecnológica é essencial para o desenvolvimento das nações, pois não somente leva à geração de conhecimento e inovação, mas também à formação de recursos humanos qualificados e cientistas com alto grau de expertise.

A adoção da recomendação científica indicada por experts no estabelecimento de diretrizes e políticas públicas pode servir de ponto de partida para a resolução de problemas sérios, como a mitigação de consequências de catástrofes naturais e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Nada mais natural que a sociedade seja diretamente beneficiada pelo conhecimento científico que em boa parte financia.

Sábia iniciativa seria governos se aproximarem de especialistas que possam colaborar no entendimento e na elaboração de propostas para atender a questões de interesse social. Colaborando com governos e tomadores de decisão, cientistas se tornam elementos chave na formulação de políticas públicas.

ROBERTO GOMES DE SOUZA BERLINCK, 52, é professor titular do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo

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