Folha de S. Paulo


Gustavo Patu: Os postes de Lula

BRASÍLIA - Em comum, Dilma Rousseff e Fernando Haddad gostam de exibir cifras grandiloquentes, na casa das dezenas de bilhões, forjadas à base de somas heterodoxas e previsões generosas.

Talvez por isso tenham caído nas graças de Lula, outro amante dos números bombásticos, que escolheu uma e outro para improváveis candidatos vitoriosos do partido, respectivamente, ao Palácio do Planalto e ao comando da maior cidade brasileira.

Entre as diferenças, Dilma colecionou recordes de popularidade e, mesmo após algumas avarias, ainda ostenta 41% de aprovação, segundo o Datafolha –enquanto Haddad encerra seu primeiro ano de mandato considerado bom ou ótimo por apenas 18% dos paulistanos.

Ainda que as pretensões de opulência econômica tenham escorrido entre seus dedos, a presidente dispõe de um legado a preservar, cultivado nos tempos das vacas gordas. Anos de fartura de dólares em exportações e de reais em impostos permitiram tornar o país mais resistente às intempéries internacionais, menos pobre e menos desigual.

O prefeito precisa formar seu capital político a partir do zero, em tempos de dinheiro escasso. Com o ruidoso fracasso de seu aumento do IPTU, resta contar com os cofres aliados do governo federal –aposta arriscada, uma vez que Dilma mal tem dado conta de suas próprias obras.

Já o terceiro poste de Lula, Alexandre Padilha, disputará o governo paulista contra um legado de duas décadas. Graças ao providencial socorro financeiro do governo FHC nos anos 90, os tucanos equacionaram as contas do Estado e puderam vender a imagem de gestores responsáveis. Sem ser associado a feitos emocionantes, Geraldo Alckmin tem hoje a mesma aprovação de Dilma.

Não por acaso, prepara-se uma renegociação da impagável dívida da prefeitura paulistana com a União. Haddad, contudo, prometeu gastos bilionários, não austeridade.


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