Folha de S. Paulo


Editorial: O novo Mercadante

Um dos muitos reflexos das recentes manifestações ocorridas no país foi a consolidação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, no papel de porta-voz e principal articulador político do governo.

Na tentativa de responder aos protestos e fortalecer o Executivo nas suas relações políticas, promoveu-se uma redefinição de interlocutores e funções no círculo próximo da presidente Dilma Rousseff --mudanças que provavelmente se traduzirão logo mais em uma reforma ministerial.

A atuação de Mercadante, com efeito, já afastou para segundo plano as ministras Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais. Em entrevista a esta Folha e ao UOL, o ministro não deixou dúvidas de que fala como figura forte do governo.

Após um período de desprestígio político, quando lhe foi pespegado o rótulo de "aloprado", por suposta participação na compra de um dossiê para prejudicar o PSDB nas eleições de 2006, Mercadante parece empenhado em se pronunciar com moderação e sensatez.

Na entrevista, reconheceu o que já se sabia --que as relações do governo com o Congresso precisam ser revistas. Sinalizou que as mudanças nessa frente virão em duas mãos: o Legislativo será pressionado a compartilhar com o Executivo as responsabilidades pela solução dos problemas do país, enquanto o Planalto promete ser mais generoso no atendimento das demandas e no diálogo dos congressistas com os ministérios.

Tratando-se de tentativa de retomar as rédeas da coordenação política e apaziguar os ânimos em partidos aliados e no próprio PT, natural que o ministro tenha descartado a redução do número de pastas --hoje em 39.

Embora reconheça efeito simbólico na medida, argumentou, não sem alguma razão, que o corte, por si só, "não tem nenhuma importância" para o equilíbrio das contas públicas.

Se, como se observa, Mercadante passa a ser o principal articulador do Planalto, é preciso que deixe o quanto antes a pasta da Educação, que exige dedicação integral.

É possível que, no desempenho de novas funções, o ministro, com considerável experiência parlamentar, consiga reorganizar a casa. Conhecendo-se, todavia, os padrões do relacionamento entre Executivo e Legislativo, não será surpresa se sua atuação se resumir a mais uma rodada de barganhas fisiológicas com os partidos.


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