Folha de S. Paulo


Editorial: Ajustes na Virada

Criada em 2005, a Virada Cultural conquistou São Paulo e já se tornou referência para outras cidades. A cada ano, o evento transforma a capital paulista em palco de espetáculos variados, que se sucedem, sem interrupções, durante 24 horas do fim de semana.

Mais voltada para o centro da cidade, a edição deste ano --primeira da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT)-- teve cerca de 900 atrações em mais de 120 locais. Os espetáculos foram bem-sucedidos e a população compareceu em peso, mas houve um incremento nos casos de violência --que precisa ser revertido, sob risco de abalar a reputação da festa.

Além de arrastões e assaltos, quatro pessoas foram atingidas por disparos de armas de fogo (uma delas morreu). Outras seis foram feridas a golpes de faca.

A nota inusitada foi o furto sofrido pelo senador petista Eduardo Suplicy, que conseguiu ao menos recuperar os documentos, depois de subir ao palco em que se apresentava a cantora Daniela Mercury, anunciar o fato e pedir devolução.

Embora o registro de morte violenta não seja inédito na história da Virada, e as ocorrências tenham se verificado num universo de 4 milhões de espectadores (segundo a exultante estimativa oficial), é imperioso reagir. A prefeitura e o governo do Estado devem respostas à população. Trata-se de um evento marcado com enorme antecedência, que pode ser mais bem planejado.

Embora ostensiva em alguns pontos, a atuação da Polícia Militar deixou a desejar. No percurso entre os palcos, por exemplo, era visível a falta de policiamento.

Frequentadores e jornalistas constataram atitude passiva de alguns PMs, o que deu margem a especulações sobre uma "operação padrão", em suposta represália a mudanças determinadas pela administração municipal na Operação Delegada (convênio com o governo estadual que dá remuneração extra a PMs que prestam serviços à prefeitura), mudanças essas que teriam desagradado setores da corporação policial.

Do lado da programação é possível fazer ajustes para reduzir riscos. Os espetáculos da alta madrugada, por exemplo, com o público em condições mais vulneráveis, poderiam ser redistribuídos para facilitar a ação da polícia. É preciso, ainda, aperfeiçoar a iluminação dos logradouros --um problema, aliás, que não diz respeito apenas ao evento.

Providências como essas ajudariam a reduzir a violência e a manter a Virada como a festa democrática que a cidade adotou.


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