Folha de S. Paulo


Confira as polêmicas despertadas pelos ombudsmans em 25 anos de críticas

A Folha foi o primeiro veículo brasileiro a criar, em 1989, um posto de profissional encarregado de defender o interesse do leitor. Nos 25 anos da função, cada um dos 11 jornalistas que assumiu a função criou polêmicas com a Secretaria de Redação e até bate boca com outros profissionais da casa. Confira as principais polêmicas de cada um dos ombudsmans.

CAIO TÚLIO COSTA
(24/9/1989 a 22/9/1991)

Ex-secretário de Redação e correspondente em Paris, foi o primeiro ombudsman do jornal

Eduardo Knapp/Folhapress

Em sua coluna de 26 de novembro de 1989, criticou o colunista Paulo Francis: "É preconceituoso, vulgar, chuta alguns dados". Francis retrucou no artigo "Patrulhas do Lula" (30/11/1989): "Acho uma grande vileza, no meu próprio jornal, eu ser atacado de maneira tão fuleira e insolente por um colega e suposto amigo".

Costa voltou a criticar o colunista em "Sobre Paulo Francis –ou o infantilismo tardio" (18/2/1990), e Francis respondeu em "Pobres diabos, como nós", classificando o ombudsman de "um canalha menor" e "bedel de jornal" (22/2/1990).

Por determinação da direção do jornal, a polêmica se encerrou em 25/2/1990, quando cada um registrou suas considerações finais. No final daquele ano, Francis deixou a Folha.

Leia todas as colunas de Costa.

MARIO VITOR SANTOS
(19/9/1991 a 19/9/1993 e 12/1/1997 a 28/12/1997)

Dirigiu a Sucursal de Brasília e foi secretário de Redação. Ocupou o cargo em dois períodos

Gabo Morales/Folhapress

Em sua primeira gestão criticou o projeto "Folhão" (17/11/1991), que, segundo ele, despolitizou o jornal. A direção do jornal retrucou que o leitorado exigia uma melhoria na prestação de serviços, e que o aumento na circulação comprovava o acerto dessa estratégia (20/9/1992). Em sua segunda gestão, criticou as reportagens que apontavam a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição de FHC ("Gravações também podem criar injustiças", 17/8/1997), pois o jornal não esclareceu os interesses do delator do esquema.

O então secretário de Redação Josias de Souza retrucou que "o interesse público despertado pelo conteúdo das fitas era maior do que eventuais conveniências particulares" ("Ombudsman também pode cometer injustiças", 24/8/1997)

Leia todas as colunas de Santos.

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
(26/9/1993 a 25/9/1994)

Dirigiu o jornal "Folha da Tarde" foi repórter especial da Folha. Ficou apenas um ano no cargo

Eduardo Knapp/Folhapress

Criticou o "fernandohenriquismo" que permeava o noticiário do jornal ("Dois pesos e duas medidas") : "É inegável que a Folha tem simpatia por Fernando Henrique... O jornal usa dois pesos e duas medidas, e não é de agora, quando fala de FHC e de Lula".

O diretor-executivo da Sucursal de Brasília, Josias de Souza, e a editora de Política, Paula Cesarino Costa, rebateram as críticas (12/6/1994) listando uma série de reportagens críticas a FHC e declarações do tucano apontando o "lulismo" do jornal.

A ombudsman reiterou seus argumentos na coluna "Pesos iguais, medidas idem" (19/6/1994), insistindo que o jornal havia protagonizado mais episódios de "fernandohenriquismo" do que de lulismo, mas apontando um equilíbrio maior no noticiário.

Leia todas as colunas de Junia.

MARCELO LEITE
(2/10/1994 a 5/1/1997)

Foi editor de Política e secretário assistente de Redação antes de assumir a função

Eduardo Knapp/Folhapress

Em janeiro de 1996, Leite escreveu uma coluna criticando a cobertura da Folha sobre a reforma da Previdência. Em resposta, o diretor da Sucursal de Brasília, Gilberto Dimenstein, afirmou que "nem o ombudsman em qualquer jornal está acima de suspeitas" e que ele, quando voltasse para a Redação, seria "desafiado a produzir as excelências que exigiu tão ardentemente em seus comentários".

Leite respondeu que o ataque de Dimenstein parecia ter sido motivado por uma "acusação de 'governista'' que ele nunca lhe dirigiu, mas que "a carapuça" lhe serviu. Dimenstein voltou à carga em 14/2/1996 afirmando que o ombudsman tinha passado "aos ataques pessoais" e que preferia encerrar o debate. Leite atribuiu a falta de debate ao próprio acusador.

Leia todas as críticas de Leite.

RENATA LO PRETE
(8/3/1998 a 9/3/2001)

Foi editora assistente de Política e secretária assistente de Redação antes de assumir o posto

Eduardo Knapp/Folhapress

No texto "Tendencioso por omissão" (7/5/2000), criticou a cobertura do jornal sobre o MST (Movimento dos Sem-Terra). Escreveu que a Folha questionava pouco a versão governamental sobre os conflitos envolvendo os sem-terra. No dia 21/5/2000, na coluna "Os sem-diferença", criticou a série de reportagens do jornal sobre as origens dos recursos utilizados pelo movimento e a entrevista com seu coordenador, João Pedro Stedile. A Secretaria de Redação respondeu que não julgava que sua abordagem havia sido agressiva, mas sim assertiva.

Em "Dia de vidraça" (12/11/2000), criticou o jornal por não ter esclarecido que seus repórteres utilizaram veículos do Incra para produzir as reportagens que criticavam o MST. A Folha não viu problema no procedimento.

Leia todas as colunas de Lo Prete.

BERNARDO AJZENBERG
(18/3/2001 a 7/3/2004)

Ex-secretário assistente de Redação, substituiu Renata Lo Prete em março de 2001

Caio Guatelli/Folhapress

Na coluna "Reta final" (8/9/2002), criticou o jornal por beneficiar a campanha do presidenciável José Serra (PSDB) em detrimento das de Lula (PT) e Ciro Gomes (PSDB) e listou uma série de exemplos: "O episódio inaugural do ciclo pró-Serra foi a reportagem sobre supostos laços entre o governador Zeca do PT (MS), membros de seu estafe e uma quadrilha de ladrões de veículos".

O editor de Política, Fernando de Barros e Silva, respondeu que o ombudsman havia fornecido munição para a campanha do PT e argumentou que o próprio Ajzenberg havia acusado o jornal anteriormente de beneficiar o PT. Ajzenberg retrucou que adversários da Folha sempre usaram as colunas dos ombudsmans para criticar o jornal.

Leia todas as colunas de Ajzenberg.

MARCELO BERABA
(11/4/2004 a 1/4/2007)

Foi editor de Cotidiano, Política e secretário de Redação antes de se tornar ombudsman

Tuca Vieira/Folhapress

Em "Ecos de 64" (28/11/2004), relatou as críticas dos leitores ao colunista Carlos Heitor Cony, que tinha pleiteado uma indenização por ter sido perseguido pela ditadura militar. Beraba escreveu que, ainda que Cony tivesse direito a uma reparação, deveria haver "uma revisão dos critérios e interpretações que regem a aplicação da lei para que desapareçam as disparidades" entre os valores das indenizações.

Mas assinalou que "o comportamento da Folha foi titubeante", pois "evitou a discussão provocada pelas distorções e disparidades entre as indenizações". Cony argumentou que pediu a reparação pelos danos que sua família sofreu e que o valor da reparação não foi estabelecido por ele, mas pela "lei, que prevalece para todos os casos".

Leia todas as colunas de Beraba.

MÁRIO MAGALHÃES
(8/4/2007 a 6/4/2008)

Ex-repórter especial da Folha, ocupou o posto por apenas um ano

Ana Carolina Fernandes/Folhapress

A maior polêmica em gestão foi a que determinou sua saída do cargo: a decisão do jornal de não disponibilizar na internet as críticas diárias do ombudsman ao jornal. Em "Despedida", ele escreveu: "A Folha condicionou minha permanência ao fim da circulação na internet das críticas diárias do ombudsman... Não concordei. Diante do impasse, deixo o posto".

A direção do jornal rebateu as críticas em 16/4/2008: "Para a Direção, a crítica interna vinha sendo utilizada pela concorrência e instrumentalizada por jornalistas ligados ao governo federal".

Leia todas as colunas de Magalhães.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
(27/4/2008 a 21/2/2010)

Foi secretário de Redação e diretor-adjunto do jornal. Também dirigiu o jornal "Valor Econômico"

Marlene Bergamo/Folhapress

Carlos Eduardo Lins da Silva criticou a reportagem que divulgou uma ficha criminal da então ministra Dilma Rousseff da época da ditadura militar. A primeira coluna ("Para ficar ao abrigo de desmentidos", 12/4/2009) alertava para o desmentido formulado pela principal fonte do texto publicado. O jornal reconheceu parte dos erros em texto publicado em 25/4/2009 ("Autenticidade da ficha de Dilma não é provada"): O ombudsman voltou ao tema outras vezes.

Em "Até ver se a ficha cai" (3/5/2009), registrou que os esclarecimentos da Redação e o Erramos publicado não elucidavam o caso. Na reportagem "Dilma contrata laudos que negam autenticidade da ficha", o jornal disse ter contratado "três peritos", que disseram ter dificuldades para emitir um laudo.

Leia todas as colunas de Lins da Silva.

SUZANA SINGER
(25/4/2010 a 27/4/2014)

Foi diretora de Revistas da Folha e secretária de Redação do jornal antes de assumir o cargo

Eduardo Knapp/Folhapress
Suzana Singer

Escreveu, em 27/10/2013 ("Arena de debates"), que a contratação de novos colunistas pela Folha não deveria reproduzir a "polarização estéril que reina na internet" e citou o "rottweiler" Reinaldo Azevedo e "o geógrafo Demétrio Magnoli", um "crítico entusiasmado do PT", que logo na estreia acusou os 'lulo-petistas de serem"conservadores, corporativistas e racialistas".

Demétrio respondeu que Suzana "trocou a função de ombudsman da Folha pela de Censora de Opinião" e voltou ao tema em 4/1/2014: "Há algo de muito errado no cenário do debate público quando a ombudsman do maior jornal do país faz tabelinha com as correntes difamatórias da internet financiadas pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Que Suzana recupere o prumo e a compostura".

Leia todas as colunas de Suzana.

VERA GUIMARÃES MARTINS
(desde 11/5/2014)

Foi editora de Política da "Folha da Tarde", editora da "Revista da Folha" e secretária assistente de Redação

Eduardo Knapp/Folhapress

A ombudsman tem criticado seguidamente a cobertura eleitoral do jornal. Em "Cada reportagem, um critério" (13/7/2014), contestou os critérios usados no cálculo da variação patrimonial dos candidatos. Em "É furo : Dilma vai apoiar Dilma na TV" (24/8/2014), disse que o enunciado não trazia nenhuma novidade.

A Secretaria de Redação retrucou afirmando que se tratava de uma apuração exclusiva da Sucursal em Brasília, que conseguiu antecipar dois pontos do programa de TV do PT. Em "Por que a Folha não assume?" (31/8/2014), relatou as críticas dos leitores que pediam que a Folha explicitasse seu apoio a um candidato. "O apartidarismo é um princípio editorial, uma característica doutrinária do jornal", respondeu o editor-executivo, Sérgio Dávila.

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